Foi uma grata surpresa a comemoração preparada pelo Vintage Hangar no meio de junho. O espaço fica próximo à Araquari (SC), no condomínio aeronáutico Céu Azul. O proprietário Alberto Bornschein contou que o evento foi uma forma de juntar tudo que é de bom da aviação. O lugar desde o começo foi criado com apreço e paixão, e pelo que é visto ali, não se brinca em serviço. A família sempre cultivou o voo em seu meio. Os pais, ambos brevetados no aeroclube de Joinville, tinham um Ercoupe, e Alberto desde pequeno já voava no colo da mãe. O acervo foi consequência do gosto e convivência com a aviação. Na rotina de comprar e vender uma máquina ou outra foi aparecendo a possibilidade de conseguir um dinheiro extra para adquirir algo e começar a formar uma coleção, sempre seguindo a linha de modelos clássicos a pistão. O primeiro exemplar de acervo foi o Bücker Lerche, daqueles feitos pela Edra, em Ipeúna (SP). A restauração do avião levou nove anos para ser completada. No momento há pelo menos duas dezenas de máquinas no acervo, que inclui alguns exemplares históricos, como o Bücker PP-TEZ, que pertenceu ao Alberto Bertelli e está sendo restaurado na WS Museum em Campo Largo (PR). O Fleet 7B que um dia foi autografado pelo escritor piloto Richard Bach, e um dos North American T-6 mais premiados do mundo, num impecável alumínio polido, moram lá. Também está hangarado no Vintage uma réplica do Demoiselle, de Santos-Dumont, feita pelo finado Fernando Botelho, dono do Broa Fly-In. E, sim, há um Ercoupe. A abertura do condomínio aeronáutico Céu Azul facilitou o abrigo das aeronaves, com a possibilidade de erguer um hangar feito num tremendo capricho. A construção tem uma estrutura no teto com diversas ripas de madeira encaixadas. Com cerca de 60m de boca, é o maior feito desta maneira na América do Sul. Não se trata de um museu aberto ao público, mas o projeto é dar acesso a turmas de escolas, inicialmente na região, para plantar a semente da aviação nas crianças. A motivação para fazer o 1º Vintage Hangar recaiu na escassez de eventos aeronáuticos no Brasil, em especial aqueles voltados aos pilotos e apreciadores desse estilo de vida. 

Fora ações como as promovidas pelo aeroclube de Itápolis e a EJ, o Fly-in de Socorro, e vez ou outra algo acontecendo no Rio Grande do Sul, além dos campeonatos de acrobacia, e os portões abertos da FAB, as tentativas para o meio estão voltadas ao interesse do vil metal, em venda de estandes. Aviação é adereço nestes casos, como poderia ser uma bucha de banho natural ou feira para mostrar os lançamentos de pastas de dentes. Mas para você ver, quando a coisa é feita na melhor das intenções, todo mundo se junta para dar certo. E deu. Em primeiro lugar teve bom repertório de shows aéreos. Só a estrutura do Vintage Hangar já daria condições para uma tarde inteira de apresentações, mas para quem ficou à beira da pista, deu para ver coisas diferentes. E vindas de longe. A abertura dos trabalhos foi, inclusive, com o Bücker Lecher, número 1 da coleção, voando em ala com o Piper J-2. Foi a graça das duas borboletas amarelas. De Sorocaba (SP) chegou o Bellanca Viking. A Hangar 33 levou um Taylor L-2, o seu T-6 nas cores da Fumaça e um Decathlon. O Francis Barros chegara com o seu Extra 330SC. O Douglas Lourenço virou bem o seu RV-7. Teve muito experimental que usou o evento de oportunidade para fazer o voo de final de semana, além de gente que simplesmente foi até lá atraída pelas cores, sons e manobras daquela aviação. Uma das mais completas demonstrações da agora chamada Turma da Mônica, uma releitura do Circo Aéreo organizado pelo Carlos Edo, aconteceu no Vintage. A apresentação teve três T-6, um Beech 18, o Sukhoi Su-31 do Richieri e equipe de paraquedistas. Fazia tempo que essa formação não se apresentava nos céus brasileiros. E, como ápice, teve a inédita reunião de todos os sete North American T-6 operacionais no Brasil. Algo semelhante aqui só mesmo na época em que o treinador era utilizado pela FAB. Nem nos tempos em que esses aviões eram da Esquadrilha da Fumaça as pessoas puderam ver sete desses radiais voando juntos. Quem pode presenciar as passagens baixas sobre o evento, chorou, riu e gritou. Como dizem, até a foto dessa esquadrilha faz barulho. Na sessão para captar as imagens em voo dessa turma, quem ganhou também foi quem estava nas praias próximas ao Céu Azul. Coisa de emoldurar. Tudo num dia lindíssimo, com céu perfeito e pós-passagem de frente fria. Típico investimento que serviu para mostrar o quanto um evento com essa dinâmica pode ser atrativo, aí sim, comercialmente. Com a experiência do primeiro encontro, o projeto é transformá-lo num acontecimento maior, centralizando esse tipo de ação na região sul, o que é muito bem-vindo, pois a maioria dos encontros de aviadores, quando acontecem, estão localizados em São Paulo e a aviação geral e histórica no sul, em especial em Santa Catarina e no Paraná vem paulatinamente ganhado força com o surgimento de coleções de aeronaves, museus (tem também o acervo da Hangar 33 em Blumenau), condomínios aeronáuticos e aumento da disseminação do interesse pela cultura aeronáutica para uma nova geração. 

Para isso, o terreno ao lado do condomínio, que inclusive é até maior, está sendo estudado para aumentar a área a fim de abrigar público, expositores, aeronaves e ainda uma pista de grama para receber a aviação mais clássica, que não combina muito com o asfalto. Alguns empresários estão sendo contatados para investir no projeto. Se for feita essa ampliação, haverá uma boa melhora no fator do espetáculo, porque com o público ficando no lado oposto de onde está o atual Vintage Hangar, ele terá o sol nas costas na maior parte do dia, facilitando a visualização das manobras aéreas. O Céu Azul também tem a vantagem de possuir uma janela de área em seu entorno onde toda essa aviação pode voar tranquilamente sem restrições até os 5.000pés. Em Itapema, onde fica o condomínio Costa Esmeralda, a restrição fica em 1.500pés. Um estudo está sendo feito também para deixar continuamente determinado um box para as acrobacias. A receita é certa. Agora é aproveitar a energia boa que esteve presente nesse evento e que não pode ser diluída com o tempo.