Nos anos de 1970 um engenheiro de uma fabricante de empilhadeiras resolveu que iria construir aviões. Richard VanGrunsven já tinha feito em 1965 uma adaptação no projeto de um Stits SA-3 Playboy colocando motor maior de 125hp e trocando as asas, empenagem que acabou resultando no seu RV-1 (o RV vem das iniciais de seu nome) e que foi base para todos os conceitos futuros dos produtos da então criada Van’s Aircraft no estado do Oregon (EUA). O primeiro avião a começar a ser vendido em kit surgiu em 1972. O RV-3 era um monoplano, asa baixa, de único lugar e de construção monocoque em metal muito simples, mas com capacidade acrobática. Se você quer saber, houve um RV-2 que foi um anfíbio, feito em madeira, mas que nunca chegou a ser completado. A Van’s surgiu bem na época em que se firmava o hábito entre os americanos de fazer um avião com as suas próprias mãos, tanto é que os primeiros RV-3 foram feitos pelo VanGrunsven pessoalmente num espaço nos fundos de sua casa. Com o tempo a estrutura da empresa foi ganhando corpo tendo que mudar de endereços algumas vezes, mas nunca saindo do Oregon, para poder ter espaço suficiente para que fossem fabricadas as partes de seus modelos. Mas não importa qual fosse, a linha mestra dos projetos era de serem fáceis de construir, voar e manter. A estrutura da fuselagem era basicamente uma caixa, desenho reto, sem frescuras, tudo em metal. Algumas como os do RV-8 tinham os assentos em tandem, com canopy bolha, outros como o RV-6, a disposição dos dois ocupantes era lado a lado. As asas também tem perfis bem básicos, em geral usando um NACA 23012 ou algo similar, com corda constante, para que fosse eficiente e sem muitos segredos na hora de voar. Facilmente um modelo a Van’s em geral desenvolvia outro. O RV-7 era um RV-6 melhorado com asas e profundores maiores. O RV-8 era filho direto do RV-4 só que ligeiramente maior. E mais recentemente, eles lançavam os modelos com a opção de trem de pouso convencional ou triciclo. O RV-8 era convencional, o RV-8A era triciclo. Tal simplicidade fez com que os kits da Van’s fossem usados pelos Young Eagles, ação da EAA- Experimental Aircraft Association destinado as crianças nos Estados Unidos, em geral de baixa renda, que mostrava um norte para a vida dessas pessoas por meio da aviação. Elas construíam e voavam os seus próprios aviões. A Van’s em geral usa motores bem convencionais, na maioria das vezes Lycoming. Apenas o RV-5, um esquisito projeto de monoposto, asa que não se sabe se é média ou alta, teve a liberdade de usar um Rotax 447 de dois tempos ou então algum VW à ar adaptado para uso aeronáutico.

Aqui no Brasil os RV sempre foram produtos de sucesso. Atrelado aos modelos da Van’s está a Flyer que apesar de não ter nenhum contrato de exclusividade e existir pelo menos outras 10 empresas aqui que ofereciam os mesmos RV, foram eles que mais venderam e entregaram desses aviões no país. Segundo Luiz Cláudio Gonçalvez, presidente da Flyer, o primeiro a ser montado aqui foi um RV-4 em 2004 e de lá para cá praticamente foram colocados todos os modelos do catálogo. Eles chegaram a entregar mais de 800 RV no Brasil, grande parte entre 2011 e 2013 e as etiquetas de preços vão de US$ 170.000,00 a US$ 300.000,00. O mais vendido foi o RV-10 de quatro lugares com 376 entregas. Em 2020 a Flyer fechou a parceria para fazer kits de montagem rápida para a própria Van’s já que os produtos se enquadravam na nova regra americana Mosaic que expandia a categoria LSA para aeronaves com quatro lugares. Aqui no Brasil, o Cláudio acredita que todos os modelos de RV podem ser enquadrados nas regras ALE – Aeronave Leve Esportiva da Anac sem fazer nenhuma modificação, tendo apenas que fazer a trabalhosa adequação da documentação necessária para a certificação. A Flyer está trabalhando para certificar inicialmente os RV-10, RV-12 e RV-14. E apesar de não fazer nenhuma grande modificação nos kits da Van’s – e mesmo as alterações de painel são feitas sob consulta tanto na Van’s como no fabricante dos aviônicos – a Flyer está desenvolvendo uma versão do RV-10 com motor de ciclo diesel, sempre seguindo os parâmetros de peso, centro de gravidade e velocidades originais de fábrica. Mais recentemente a Van’s mostrou o protótipo do RV-15. Será o primeiro asa alta da marca. As especificações ainda são pouco abertas. No site deles por exemplo, na parte sobre o motor eles escrevem que sim, o RV-15 tem motor. Mas não dizem qual é. Sobre a performance eles escrevem que na hora que eles souberem, você vai saber. Humor da Van’s. É um avião de estrutura totalmente metálica que deve ter trem de pouso triciclo e convencional ( o protótipo é convencional). O motor soa como algum Lycoming de quatro cilindros, mas não dá para saber qual é e nem dá para saber se é um dois ou quatro lugares. Deve se tornar um avião não só para o mercado geral mas para atender bem o segmento de bush pilots em regiões remotas do Alasca ou Canadá, pois mesma a forma que seus irmãos, feito para ser simples e operar sem sustos mesmos em regiões tão remotas.