Portões Abertos AFA 2023
Festa no céu
O convite veio em boa hora. A Azul estava reunindo um grupo de jornalistas e funcionários para participar do Portões Abertos que aconteceria na Academia da Força Aérea em Pirassununga. Neste ano de 2023 a motivação estava em cima dos 150 anos do nascimento de Alberto Santos-Dumont. Ir até esse evento por terra é uma epopeia cheia de perrengues, pois costumeiramente há uma enorme fila com horas de espera para entrar na base aérea e a oportunidade de seguir a bordo de um Embraer E195-E2 na enorme dose de conforto não poderia ser desperdiçada. O jato de matrícula PS-AEO, número de série 19020092 foi fabricado em 2023 e batizado como Santos=Dumont, assim mesmo com o sinal = da mesma forma que o inventor assinava o seu nome. O avião também recebeu uma pintura especial relacionado aos 150 anos. Lotação máxima incluindo Abhi Sha, o novo presidente da companhia, o Embraer decolou no começo da manhã de Campinas (SP) para um voo curto até Pirassununga. Como a distância era pequena, nada de subir muito, o trajeto foi feito basicamente aos 7.000pés com direito a várias órbitas na região de Mogi Guaçu em função da programação de demonstrações que já havia iniciado. E o roteiro estava bem recheado. Mal realizado o desembarque, foi preciso ser rápido com os equipamentos fotográficos para pegar as passagens com quatro Embraer T-27 Tucano da Academia e logo em seguida as passagens baixas do Northrop F-5M. Com um pequeno intervalo, o público que superou as 50 mil pessoas viu pela primeira vez o Saab F-39 Gripen fazendo demonstrações no Domingo Aéreo da AFA.
Tanto do caça de nova geração quanto do velho conhecido F-5M fizeram apresentações bem padronizadas com sequências de passagens baixas, muitas com os pós-combustores ligados. A comunidade da aviação estava bem representada, a WS Aircraft Museum de Campo Largo (PR) levou um Waco UPF-7, o North American T-6D de 1943, o Beech G18S de 1960 (que fez um voo em ala com um elemento de A-29 da Fumaça) e como avião de apoio tinha um Gulfstream G450. A Hangar 33 levou o seu T-6 com a pintura da Fumaça que chamou a atenção nas demonstrações por não recolher totalmente o trem de pouso, em alguns momentos estavam as duas pernas semi recolhidas e em outras mantinha-se perneta com a do lado direito estendida. A turma da acrobacia também estava em peso, entre os pilotos, o Marcio Oliveira com o Sukhoi SU-26, o Beto Bazaia de T-6 e Lucas Yancovitz de Extra 300. A Esquadrilha Fox de Brasília (DF) foi outra equipe que fez apresentações conjunto. E teve os Super Decathlon do aeroclube de São Paulo e da ACRO. O Fairchild PT-19 do aeroclube de Pirassununga fez demonstrações na parte da tarde houve uma exibição de um racha entre uma Kawasaki ZX-14 de 203hp versus um Acro Sport II de motor Lycoming O-360 de 180hp. Equipes de aeromodelos gigante fizeram vários voos, pena que em posição meio afastada da maior parte do público. Na exposição estática, o mundaréu de gente tinha como visitar o Embraer KC-390 Millennium, os T-25 e T-27 da academia e ainda podia ver de perto o Lockheed P-3AM Orion de patrulhamento marítimo e o Embraer E-99M de vigilância aérea e até um Air Tractor dos Bombeiros do Distrito Federal usado no combate à incêndios nas matas, o dirigível desenvolvido pela AirShip de São Carlos (SP). Dentro do hangar da Fumaça estava sendo exposto dois super drones Nauru 500 e 1000 da XMobots também de São Carlos. Esses aparelhos foram selecionados pelo exército brasileiro e o modelo 1000 está com uma versão armada com mísseis Enforcer sendo desenvolvida.
Durante a tarde ainda chegou um C-295 Amazonas e as demonstrações de jatos de combate também foram completadas com o voo do Douglas AF-1AM da Marinha. Mas as grandes atrações ficaram a cargo da Esquadrilha da Fumaça e não apenas na apresentação deles que desta vez se mostrou muito bem afiada, com ritmo muito bom entre as manobras e como estavam na casa deles, aproveitaram para dar aquelas passadas mais baixas que normalmente acontecem pelo Brasil. Quem viu se esbaldou. Mas nesse Portões Abertos eles convidaram a Azul e a Gol para fazerem passagens baixas com os A-29 Super Tucano na ala. De manhã foi a vez do E195-E2 da Azul, tendo como tripulação os pilotos Guilherme Holtmann, Mirella Zambelli e Fabio Campos que seguia na frente com seis aviões da Fumaça na ala. Em duas passagens, manobras bem arrojadas, em uma delas fizeram um brake com os Super Tucano abrindo o leque com o Azul seguindo no meio, em outra o Azul seguiu alinhado com a pista e os A-29 vinham em ala invertida. Do lado esquerdo iam os Fumaça 1,3 e 5 (na ordem e dentro para fora) e na direita iam os Fumaça 2, 6 e 4. Foi um trabalho e tanto feito com velocidade de 200nós. Mas se o voo invertido até que não seria uma grande novidade para a Fumaça, pois fazem tal passagem com seis aeronaves no dorso em suas apresentações, o duro foi coordenar a ala com as variações do sistema de controle de potência automática do E195 que para manter a velocidade do jato, ficava toda hora variando a potência, o que dava mais trabalho para os A-29. Na parte da tarde, foi a vez da Gol participar de um voo semelhante (só não teve a passagem com os A-29 no dorso, mas teve brake também) usando o Boeing 737-800NG de prefixo PR-GXR que também recebeu uma pintura comemorativa aos 150 anos de Santos-Dumont. Para quem ficou fotografando, as passagens da Gol ficaram esteticamente melhores com a luz de final da tarde. Extenuante, principalmente pelo forte calor naquele domingo, mas extremamente válido, esse Portões Abertos entra para a memória eterna.