Se tem um carrinho que sempre chamou a atenção pela beleza das suas linhas esse foi o hacth compacto da Peugeot. Nascido em 1999 aqui no Brasil como modelo 206, seguia o recém lançamento na França. Os faróis alongados e perfil bem aerodinâmico fizeram frente ao VW Gol e Fiat Palio. Foi um carro que vendeu bem. Nos 30 anos seguintes, o 206 ganhou uma repaginada, virou 207 (que não teve uma boa receptividade) e agora vive como 208 desde 2013 e que desde 2019 está em sua segunda geração. Com ele os brasileiros tiveram contato com o conjunto de luzes diurnas que a estética faz referência aos dentes caninos de um leão, símbolo da Peugeot. Essa versão também serviu para posicionar o carro numa categoria mais premium entre os hatch compactos das marcas genéricas como o Fiat Punto ou então o Chevrolet Sonic, disponíveis na época. No geral, a carroceria evoluiu muito em termos de desenho, tornou-se mais musculosa e alternando linhas curvas com vincos na medida certa. As rodas de 17”contribuem para o aspecto mais sólido. É um estilo que começou a aparecer aqui com o 3008 em 2017 quando ele trocou o jeitão de minivan pelo perfil SUV. Essa geração do 208 finalmente troca o velho motor 1.6 de 118/115cv e 16,1kgf.m de torque por um 1.0 turbo de 130cv e 20,39kgf.m de torque que trabalha com um câmbio CVT. Esse motor de três cilindros é o mesmo usado nos Fiat Fastback, Pulse e Strada e lhe garante o posto de hatch de entrada mais potente do mercado. O Hyundai HB20, dentro da turma composta ainda por VW Polo e Chevrolet Onyx, é o mais potente entre os concorrentes, entrega um motor com 120cv. Há ainda a versão desse 1.0 aspirado que entrega 75cv. E não tem jeito, todo mundo ainda se surpreende com a eficiência desses novos motores de três cilindros com turbo. Mas é bom lembrar que o seu funcionamento é um bocado mais áspero que um quadricilíndrico. Mas a unidade da Peugeot funciona de uma forma mais harmoniosa que, por exemplo, os usados nos Chevrolet. Os Tracker 1.0 vibram bem. Apesar disso, a unidade emprestada do 208 Style 1.0 turbo tinha um comportamento meio estranho. Parado com o motor funcionando ele acusava pequenos soluço na transmissão, dando micro trancos de forma constante. Curiosamente no final de uma semana de uso esse comportamento quase que sumiu, talvez por termos usado ele em condições de carga plena por um bom período. Quem sabe os elementos da transmissão, pelo esforço, tenham se assentado e auto ajustado. Coisa para mecânico de velha guarda pensar. Sob essa condição, na primeira etapa da avaliação rodamos 132km em trecho urbano com o carro levando cerca de 370kg de lastro para simular lotação cheia mais bagagem e a média de consumo ficou em 6,21km/l, mostrando o quanto a pequena usina precisou se esforçar para movimentar tanto peso no anda e para da cidade. Em seguida partindo para trecho em estrada, também com o carro pesado a média de consumo foi para 10,8km/l. Aliviando o peso para apenas um ocupante a bordo, sem bagagem, em trecho urbano o 208 fez 12,5km/l na estrada o consumo foi aos 15,5km/l, sempre usando gasolina. 

Outro ponto que chamou a atenção foi a agilidade desse 208. Nas medições de aceleração o 208 Style turbo com o motor girando a cerca de 2.800rpm, saiu da imobilidade e atingiu os 100km/h em 10,68s. Esse número daria para ser um pouco mais baixo pois o asfalto da via estava bem irregular. Teoricamente daria para chegar a fazer a medição em 9,5 ou 10,0s ou um pouco abaixo disso se usar etanol. Ele possui modo esportivo, mas como todo câmbio CVT, isso pode ser traduzido em mais ronco do motor do que uma efetiva mudança de comportamento. Essa plataforma, se não é nenhum VW Golf, também tem bom comportamento em curvas. Em algumas situações ele poderia ser um pouco mais firme, pois principalmente o conjunto de suspensões prioriza um tanto o conforto. Mas se qualquer forma, este hatch é bem mais preciso em curvas que um SUV. Na hora de entrar chama a atenção na atuação da chave presencial. Ele realmente antecipa a sua chegada destravando o carro. Não é preciso nem colocar a mão na maçaneta da porta. Mesma coisa ao se afastar do carro, dois passos distante e você escuta o travamento das portas. Por dentro, a cabine é bem elegante com bom uso de couro e Alcantara, as partes de plástico duro ao longo do painel imitam a fibra de carbono e tudo está em tons mais escuro. O painel do motorista tem uma tela multifuncional com elementos que simulam o aspecto 3D. É preciso de um tempo inicial para se acostumar à tal profundidade de campo que esse visual produz. Um ponto a ser observado é que, por mais que ajustássemos, a direção, apesar de ter um formato bem compacto, em determinados momentos obstruía a visão da base do painel, algumas informações ficavam escondidas. O sistema de info entretenimento possui uma tela de 10,3”sensível ao toque e é bem completo. Ele pareou e espelhou de forma rápida e fácil os trabalhos com o Motorola Edge 30neo. Mas ainda é preciso cabo para isso. Na parte inferior do console há duas entradas USB uma do padrão A e outra do padrão C, esta usada para conectividade de dados. Por outro lado, o 208 possui nicho para recarregamento de celular por indução e funcionou bem. Pela tela central é possível acessar o sistema de câmeras que auxiliam as manobras de estacionamento, mas é bom ficar atento ao comando de freio e acelerador nas manobras de estacionamento em marcha ré se estiver próximo à um obstáculo, pois soltando o freio e acionando o acelerador ao poucos, eles funcionam de forma áspera. 

Com o freio de mão acionado por barra entre os bancos, faltou um nicho de porta treco ou ainda um apoio de braços naquela área. De espaço o carro é suficiente para quatro a bordo, mesmo que mais altos sigam no banco traseiro. Os bancos dianteiros, sem ajustes elétricos, oferecem conforto suficiente para viagens longas e é um carro bem silencioso por dentro. O som com 4 auto-falantes e dois tweeters é razoável, tem peso nos médios e agudos para o que se ouve ter um volume denso, sem aquele acabamento de taquara rachada. De porta malas são 311l, bom para um hatch. O Fiat Argo tem um bagageiro de 300l o mesmo volume do Hyundai HB20. Belo, mas ainda sem o visual da versão lançada na Europa, que deve chegar aqui entre 2024 e 2025 (o 2008, SUV irmão com o visual europeu, já anda em testes no Brasil e deve aportar por aqui no começo de 2024) o Peugeot Style Turbo entrega bastante coisa pelos R$ 109.990,00 que o fabricante pede por ele. Acima dele só a versão Griffe turbo que sai por R$ 114.990,00 e tem de série itens de condução semi-autônoma. No papo de boteco, um dos habitués comenta que acha o 208 muito bonito, mas não compraria por ser Peugeot, carro francês. O estigma da marca ainda persiste. Mesmo depois da incorporação pela Stellantis, um Peugeot é considerado de complicada manutenção, tem peça que demora e o atendimento pós-venda é crítico. Mas esse carro tem predicados valiosos para se tornar até uma opção, com louvor, ao Fiat Argo (R$ 97.990,00 a versão Trekking 1.3) que tem o mesmo DNA mas não tanto estilo e seria um degrau abaixo do Peugeot.

Onde achar:
Peugeot
www.peugeot.com.br