O Brasil poderia ser no turismo tão gigante quanto é a sua própria natureza. Setor que não passa do engatinhar depende mais de atitudes pessoais para crescer. Na Zona da Mata Mineira, há cerca de uma década e meia uma verdadeira ação que beira a insanidade fez surgir a Comuna Ibiti. Da compra de um terreno próximo à cidade de Lima Duarte (MG) onde havia uma sede secular, surgiu um hotel de altíssimo padrão, com menos de dez unidades, mas que antes da roupa de cama de centenas de fios de algodão egípcio, o vinho servido nas refeições, a televisão de enormes polegadas, a mais valia desse destino estava nas pessoas que lá trabalhavam, gente que vivia no entorno e foram capacitadas para tocar o negócio envolvidas também na conscientização ecológica, filosófica, artística e até social. Tudo emoldurando as colinas cheias de cantos para serem vistos e dentro de um conceito de que apesar de ser um destino de luxo, com tarifário alto (a diária para duas pessoas mais em conta numa das unidades que, na verdade, ficam a cerca de 20 a 30km da estrutura principal do Ibiti, sai por R$ 2.783,00 em dias da semana enquanto que a diária mais cara, também para dias da semana numa das casas na vila que eles tem, sai por R$7.935,00), não basta ter o dinheiro na carteira, o verdadeiro aproveitamento do lugar só estará disponível quando a pessoa abrir um pouco a mente para entender o quanto vale o regenerar a mata degradada por séculos de extrativismo sem pensamento e a criação de novas perspectivas para as pessoas que vivem no seu entorno.

A visita ao destino é quase uma limpeza de visão de vida. Ali o bem-estar é mais do que o lugar comum explorado por tantos hotéis ditos de sonhos que se limitam a oferecer um cardápio de travesseiros, um aromatizante no quarto ou uma sessão de massagens com pedras quentes no gazebo ao ar livre. Sim, no Ibiti há tudo isso, porque vendendo isso é a forma de viabilizar todo o resto do contexto e estrutura. As pessoas pagam para ter os seus momentos de conforto e o resultado financeiro é investido na sustentação de um verdadeiro conceito que curiosamente é o da vida simples, muitas vezes perdida dentro de problemas que as próprias pessoas inserem, sem se darem conta, nas suas vidas. O conceito por tanto tempo progrediu. A vizinha Vila Mogol, com duas ruas, uma igreja e um orelhão aos poucos foi integrada ao agora batizado de Ibiti Projeto. Numa visão imediata é um hotel em formato de vila. Casas que estavam vazias devido ao êxodo quase que natural – afinal é um vilarejo no meio do nada, quase sem recursos ou perspectivas de crescimento pessoal – foram transformados em chalés para os hóspedes. Uma construção maior virou restaurante. No entanto, a Vila Mogol é o suco do que o Ibiti pretende mostrar para as pessoas. Lá uma escola foi revitalizada para dar educação de qualidade para as crianças da região. Eles contrataram cinco indígenas que em 15 dias ergueram uma oca de pé direito enorme e que serve como o que poderia ser um centro de eventos. Há um criadouro de plantas nativas. O complexo pode ser visitado usando bicicletas elétricas. O artifício moderno está mais para um facilitador para que todos possam enfrentar as subidas de tantos morros nos 300km de trilhas disponíveis do que algum apego sem razão da modernidade. Em diversos ocasiões eles dão abrigo a artistas dos mais variados segmentos para que eles possam ali desenvolver suas criatividades. Um desses é o Luiz Fernando Rodrigues Leite, vulgo DJ Papagaio, carioca, que trabalha com mobiliário. Boa parte da madeira usada por ele é reciclada ou de espécie exótica brasileiras – algumas que agora só se encontra lá fora.

O Ibiti também descobriu e investiu no músico Lucas Soares. O pianista residente no lugar já inclusive compôs a sua primeira Suíte de 13 peças, uma verdadeira trilha sonora para o Ibiti. Em novembro de 2024 ele a apresentou pela primeira vez na oca sendo tocada num piano Steinway de 1874, todo restaurado e feito de jacarandá brasileiro que só de olhar é imponente. O Ibiti sempre soube que o acesso é primordial para sua prosperidade. Desde sempre teve uma pista, porém agora ela recebeu a pavimentação em asfalto o que facilita a operação de um leque maior de aeronaves. O aeródromo Carolina de Assis Repetto (SJXM 21º43’49”S/043º53’32W) possui 860m de comprimento e 15m de largura e uma inclinação de 8º, ou seja, tirando alguma situação de vento muito extremo, o pouso é morro acima e decolagem morro abaixo. É indicada a operação até um King Air B200 e opera visual diurno. Junto com a inauguração da nova estrutura aeroportuária eles conseguiram uma parceria de serviço de ponte aérea com a Flapper e a Dux Express. Na tabela da Flapper o voo do Campo de Marte em São Paulo (SP) para o Ibiti sai por R$ 1.980,00 por pessoa e trecho, decolando sempre às 14h00 das sextas-feiras com o retorno aos domingos às 15h00. No aproveitamento de alguma perna vazia de voo, cada assento sai por R$ 750,00 (cerca de 60% de desconto). O fretamento puro, se a pessoa precisar fazer o voo fora das datas das ofertas do pacote, sai por R$ 19.600,00 por trecho, sempre usando o Cessna Grand Caravan da Dux. É um voo rápido, com cerca de 1h40min na maior parte seguindo paralelo ao Vale do Paraíba até a região de Resende (RJ) quando o Caravan toma rumo da região de Lima Duarte. A volta basicamente é feita seguindo o mesmo caminho. Considerando São Paulo, é bem melhor que a opção usando carro, que a viagem pode demandar de 7 a 8h de estrada, apesar delas serem de boa qualidade. Porém chegando seja lá de qual forma, é recomendável as pessoas pingarem um pouco de clareza nos seus olhos, porque o que eles vão ver e vivenciar chega a ser de outro mundo. Uma Shangri-lá mineira talvez.

Onde achar:

Ibiti Projeto

https://ibiti.com/

Flapper

https://flyflapper.com/pt-BR

Confira também o vídeo sobre o Ibiti Projeto no Instagram e Tiktok da HiGH (@highrevista)