Ford Territory
Marcando território
A Ford volta a apostar suas fichas no Territory no Brasil e espera colher melhores resultados. Na primeira vez que esse carro chegou ao Brasil, um modelo de projeto chinês, o sucesso não foi alcançado. A marca estava num momento nada bom, passava de montadora no Brasil para importadora e muita gente estava torcendo o nariz por tal atitude. Mas o tempo passou e o Bronco, Mustang, a nova picape Maverick, a sempre bem aceita Ranger mais a grande F-150 trataram de remodelar positivamente a imagem da Ford. De volta ao país a nova geração da Territory pretende chamar maior atenção para si. De janeiro até novembro de 2024, segundo relatório da Fenabrave, foram emplacados 5.016 Territory, o modelo ficou na 49a posição entre os mais emplacados e 26º entre os SUV. Curiosamente, vendeu mais que o Bronco, que acumulou 2.123 unidades emplacadas do começo do ano até novembro. Ela basicamente não tem muita relação com o modelo anterior, ainda é feito em parceria com a chinesa Jiangling onde é conhecido como Equator, mas é um carro novo. O desenho da carroceria é bem asiática, cheia de vincos que quebram um pouco qualquer aspecto de massudo do SUV, mas ao mesmo tempo sugere formas musculosas. Muito bonito, porém falta uma certa personalidade. Olhando rápido pode ser confundido com o BYD Song, qualquer SUV Tiggo ou ainda o GWM Haval. Medindo 4,630m e com um entre eixos de 2,726m fora os concorrentes chineses citados, aqui ele bate de frente com o Jeep Compass (4.404m/2,636m), Toyota Corolla Cross (4.460m/2,640m) e ainda com o VW Taos (4,461m/2,680m) e desta vez a Ford foi bem arrojada no valor pedido pelo produto. No lançamento em outubro de 2023 ele custava R$ 209.990,00, atualmente a tabela foi atualizada para R$ 212.000,00. Ainda é um preço bem atrativo, ficando entre as versões Longitude T270 (R$ 202.990,00) e Limited T270 (R$ 221.990,00) do Compass, dos VW Taos Comfortline 250 TSI (R$ 196.990,00) e Highline 250 TSI ( R$ 220.990,00) e parelho com o Toyota Corolla Cross (R$ 212.890,00). Se colocá-lo ao lado dos primos chineses, o BYD Song Pro sai por R$ 189.900,00, o Tiggo 7 Pro custa a partir de R$ 181.990,00, o Tiggo 8 Max vai a R$ 190.990,00 e pelo GWM Haval HEV2 é pedido R$ 216.00,00. E nessa grande concorrência você tem carros híbridos como o Haval, o Song Pro e o Corolla Cross, os demais tem motorização à combustão convencional. O Ford se usa o mesmo bloco do 1.5 quadricilíndrico da versão anterior, agora adotou o ciclo Otto, injeção direta e recebeu comando de válvulas variável. A potência foi aos 169cv a 5.500rpm e torque máximo de 25,49kgf.m entre 1.500 e 3.500rpm, tudo gerenciado por um câmbio de dupla embreagem de 7 velocidades. O Territory tem quatro modos de condução, o econômico, normal, esportivo e uma espécie de reduzida para serras ou em situações com muitas ladeiras e a tração é dianteira apenas. Como ele pesa em ordem de marcha 1.705kg não peça a ele um comportamento esportivo, nem no modo que recebe o nome e especialmente se selecionado o modo econômico. A reação é lenta ao pisar no pedal da direita e a culpa disso, além dos quilos do conjunto, pode estar mais ligada ao câmbio que prioriza o conforto. Realmente não dá para perceber as passagens de marchas, ele parece mais um CVT, mas sem o ruído de motor sendo esganado. Contudo, na hora de uma ultrapassagem mais complicada, bem que poderia ter um pouco mais de vigor. Há também um certo atraso entre a hora em que o acelerador é comandado e a reação do carro. Na medição de aceleração de 0 a 100km/h ele precisou de 10,7s o que é de certa forma compatível com o que se esperava dele. Só que se não há desempenho puro, o Territory não trocou essa timidez por maior economia de consumo.
Pudemos usá-lo em diversas situações. Pesado, carregado com cerca de 321kg a bordo, num misto de uso em circuito urbano e rodoviário ele manteve uma média 9,22km/l. Vazio, apenas com o motorista e em roteiro exclusivamente em estrada mantendo velocidade entre 110 e 120km/h a média subiu para 11,132km/l. Deu para fazer uma viagem de Atibaia (SP) para Belo Horizonte (MG), um trecho de 569km usando 53 dos 60 litros da capacidade do seu tanque. Nessa hora uma curiosidade, novamente totalmente reabastecido, num posto de bandeira BR perto do aeroporto da Pampulha, o Territory pelo jeito não gostou muito da gasolina que bebeu, pois a média nessa etapa caiu para 9,611km/l andando só na estrada, sem abusar de nada do acelerador e com o carro vazio. Se considerar os mesmos 53 litros consumidos na etapa anterior, perdemos cerca de 60km de alcance. Na volta tivemos que antecipar o reabastecimento ou poderíamos ser obrigados a abastecer numa área apenas com postos de bandeira independente, que a princípio não é recomendado. Entretanto, se for valer pelo que aconteceu no último reabastecimento, o fato de optar numa parada de bandeira famosa, dita quase que oficial, não foi garantia de receber bom produto. Dinamicamente o Territory é um bom SUV e como tal, não se pode exagerar nas curvas. Vazio sempre houve a sensação da traseira abanando mais que o desejável. Para assentar bem, o ideal é que tivesse sempre uns 100kg na parte traseira ou no bagageiro. Os freios são ótimos. O Territory vem com auxílios para a condução bons. O piloto automático é adaptativo e ele mantém a centralização das faixinhas. Contudo, ao deixá-lo acionado, a constante sensação de dirigir torto com o carro querendo ir toda hora para algum lado, e ele não contornou as curvas muito bem sozinho, fez com que optássemos por deixar o sistema inoperante por boa parte das viagens. Há alertas nos retrovisores externos da presença de objetos no ponto cego e sistema de estacionamento automático. A grande virtude é o conforto da cabine. Viajar por 600km foi um prazer e tanto. Os bancos dianteiros parecem se moldar bem em torno do seu corpo. São largos, macios e refrigerados. O ar condicionado é de dupla zona, trabalhou bem para administrar o calor e a radiação vindo de fora que passava pelo enorme parabrisas e pelo teto solar panorâmico e há saídas para a parte de trás da cabine. Os ocupantes dessa área tem espaço muito bom para as pernas devido ao entre-eixos generoso e o piso é plano. O silêncio impera a bordo. O sistema de som se mostrou bom, com um nível acima do satisfatório para o corpo dos graves e médios. Olhando para a cabine, o acabamento é de carro mais caro que ele. Há elementos imitando madeira, uma discreta iluminação de ambiente colorida de LED e o couro usado no volante tem excelente textura, da mesma forma que o material usado no revestimento de bancos e laterais. Apenas a cor, bicolor de cinza e azul se casava perfeitamente com a unidade cedida, com carroceria em azul metálico, não deve servir muito bem com outras opções de pintura como a vermelha. O que chamou a atenção foi o conjunto de telas para o motorista e a do sistema de info-entretenimento, ambas com 12,3” e que aparentam ser uma só.
A parte da central multimídia é sensível ao toque. A Ford teve a preocupação em usar a mesma fonte de letras encontradas em outros de seus modelos para distanciar do modelo chinês. Ele espelhou rapidamente e sem fio o Motorola Edge 50 Ultra (o carro também conta com nicho de carregamento de celular por indução) e trabalhou bem com o Android Auto. Única coisa que algumas funções como o de ajuste de ar condicionado é complicado, é preciso ficar saindo das páginas até chegar onde se quer e o comando de modo de condução, que é também feito pela tela, fica escondido numa página (ok, depois que lhe mostram, aquilo se torna fácil de manipular, mas não é tão obvio, pois poderia ser um botão perto da seletora do câmbio). Os comandos na direção são fáceis de usar. É um carro que vai agradar a família. Tem bons 448l de capacidade de porta malas e que pode chegar a 1.422l com os bancos rebatidos. Todavia é preciso ficar esperto na hora da compra, já saíram imagens lá na China de um novo Territory repaginado, maior, com opção de sete lugares e versão com motorização híbrida. Esse Territory que pode chegar ao Brasil em 2026 ou até antes, no segundo semestre de 2025, já está em teste no país, pode frustrar as intenções da Ford que seu SUV médio ocupe maior fatia de mercado. Será preciso saber se a nova versão se mostrará competitiva em termos de preço, pois a tecnologia híbrida pode custar mais. Ele terá que se situar no mínimo no mesmo padrão de valores cobrados pela Toyota no Corolla Cross, pois a atual versão com motor somente à combustão já é mais cara que os GWM Haval 6 e BYD Song Pro. Agora é esperar para ver ou obter o seu Territory desde já.
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