No ano de 2009 desembarcava no Brasil o Fiat 500. Era um compacto dentro de uma onda global de versões modernas de clássicos que ia do Fusca ao Corvette. O Fiat era uma homenagem ao Topolino feito entre 1936 e 1955, um dos menores carros do mundo na época. Como o antecessor, o Fiat 500 tinha medidas bem exíguas, perfil de uso bem urbano, caiu no gosto de muitos e era caro. Mais que um carro, refletia um estilo de vida bacana. Ficou no país até 2019 e após um intervalo de 2 anos ele ressurgiu, ainda clássico, mas com uma plataforma mais moderna ainda, saindo a motorização à combustão por uma 100% elétrica. É a pura visão da modernidade com o ar nostálgico. O estilo ainda é muito bom, soluções de desenho comparáveis aos acertos que a Mini mantém nos seus Cooper. Se a geração anterior era trazida da Polônia e do México, o 500e é um legítimo produto italiano, feito em Turin ou Torino, como está gravado no nicho do puxador interno da porta. Ao contrário do Topolino, o 500e não é nada popular, até por conta do preço. A Fiat pede R$ 214.990,00 por ele. O Fiat Fastback Abarth sai por R$ 171.990,00. O Jeep Compass Longitude T270 sai por R$ 208.990,00. É um carro de nicho. O produto é tão segmentado que não são todas as concessionárias da Fiat que trabalham com ele. Apesar de ser ainda pequeno, em comparação com o 500 à combustão, o elétrico cresceu 6,1cm no comprimento, 5,7cm na largura, 2,9cm na altura e 2,2cm no entre-eixos. Colocando um ao lado do outro a diferença é quase imperceptível. Mas sim, o visual recebeu seus retoques e o que chama mais atenção são os faróis que parecem olhos e na parte superior as luzes diurnas dão a impressão de serem sobrancelhas. Mas o carro não ficou com carinha de bichinho feliz como era o Cherry QQ de 2010. Na frente, o número 500 está em destaque. Ao redor da carroceria que ainda tem a forma de bala de goma há diversos detalhes como o do repetidor de seta protuberante, como uma flecha perto da coluna A, os piscas ovais abaixo dos faróis, a tarjeta em alumínio com o nome do carro na base da janela traseira e o spoiler no final do teto do carro. A Fiat fez bem em calçar o 500e com rodas de 16”, dá um toque musculoso ao carro, meio que de Super Mouse. Entrando (a porta se mostra um tanto quanto pesada), a cabine mostra um acabamento de médio para superior. Nada sério, trocou o plástico imitando o couro ou até mesmo o couro por detalhes em plástico colorido como o que envolve o painel que se mistura a elementos em alumínio, dá um certo tom de nave espacial. Mas é preciso ficar atento a forração dos bancos pois o apoio de braço entre eles mostrava uma mancha escura de contato, talvez um encardido, isso com uma unidade de apenas 10.000km. É preciso ver como os bancos, que são claros e forrados com o mesmo material, vão ficar depois de muito contato com calças jeans por exemplo, que soltam um bocado de tinta. Com uma cabine tão pequena, é uma certa competição entre o que você ganha e o que o carro necessita. Por exemplo, o retrovisor interno come um espaço de visão de uns 20 a 30º à direita do motorista, é preciso fazer um certo contorcionismo para olhar o que vem daquele lado, o que pode ser a checada em uma esquina. Em Curitiba, isso significa não conseguir enxergar a sinaleira na lateral direita da esquina. Colocamos uma pessoa de 1,87m no banco da frente fazendo que ele ajustasse o necessário para suas pernas ficasses adequadamente acomodadas. Com isso, sobrou atrás o mínimo necessário para entrar uma criança de cerca de 10 anos, magra, sem usar o adaptador de assentos. Mas o espaço para as pernas dele era muito justo. Como o porta malas tem capacidade de apenas 185l, a parte dos bancos traseiros são usados mais para levar coisas. Contudo não espere muita facilidade de acesso. Para quem segue nos bancos frontais, o 500e é bem confortável.

Desta vez, só há versão com teto solar, nada de versão cabriolet. O painel do motorista numa moldura circular onde fica embutida a tela de 7” bem completa de informações. A tela do infoentretenimento possui 10,25” e trabalhou fácil, sem fio, com o Motorola Edge 50 Ultra. No console central há um nicho para carregamento sem fio do celular que funcionou adequadamente, apesar de esquentar muito o celular (o melhor ainda é usar o cabo tradicional numa das tomadas USB). Entre os recursos estão gráficos com diversos relatórios de consumo e registros de como você andou recentemente. No GPS é possível checar o cálculo de alcance conforme a atividade e nível da bateria. O 500e dispõe de aplicativo para que a pessoa gerencie o consumo do veículo, verificação de carga, agendar o funcionamento do ar-condicionado ou acompanhar o carregamento da bateria, inclusive com a possibilidade de agendamento. Dada a partida, ele emite um zunido baixo e ao atingir cerca de 23-25km/h toca um acorde da trilha do filme Amacord composto por Nino Rota. Molto italiano. Esse é um Fiat espertíssimo e não tanto pela potência de 118cv e sim pelo torque de 22,43kgf.m, dois quilos a mais que o que entrega o Fiat Pulse híbrido e a mesma coisa do o motor 1.5 do BMW 118i Sport GP. O Fiat 500 Sport com motor à combustão 1.4 16V entregava 105cv, 13,6kgf.m de torque e pesava 1.138kg enquanto que o elétrico pesa 1.690kg. No trânsito urbano a agilidade impressiona. Basta apontar para onde se quer ir e ele já está lá. Com um entre-eixos de 2,322m ele fica mais suscetível aos calombos das ruas brasileiras, mal a frente sai do calombo e lá vem a traseira subindo, descendo e você chacoalhando mais a bordo desse carrinho. Em contrapartida, ele possui um diâmetro de giro de apenas 9,6m. Se não tiver ninguém estacionado, dá para tranquilamente fazer círculos na maioria das ruas. O 500e possui os modos de condução Normal, Range e Sherpa. A diferença dos dois primeiros é que no Range basicamente não se usa o pedal do freio. O carro busca cada momento que se alivia o pé do acelerador para regenerar energia na bateria, isso se traduz em frenagem e faz isso de modo forte. Tanto é que em manobras de estacionamento, baliza ou mesmo para fazer algum deslocamento para frente ou à ré lentamente, o indicado é trocar para o modo Normal pois o carro fica freando em excesso. É preciso muita doutrina no pé direito no modo Range e saber o ponto de pressão exata do pedal para não acelerar em demasia e evitar aquela batida indevida. Também é preciso que aqueles apressadinhos de plantão nas estradas e que gostam de colar na traseira dos outros, se acostumem a dar uma certa distância extra desse 500e, pois uma aliviada no acelerador pode significar uma freada até considerável provocando desespero de quem está atrás. Todavia, se comparar com a primeira versão do 500 que chegou no Brasil (teste na HiGH 23) que vinha com câmbio Dualogic e as passagens de marchas geravam um constante movimento para frente e para trás dos troncos das pessoas, as reduzidas eram feitas de modo errôneo e cheio de dúvidas, a característica do regenerador do novo 500e é dos menores problemas. O modo Sherpa é para as emergências ou quando você deseja estender ao máximo o alcance do carro. Ele desliga o ar condicionado, acelera apenas até os 80km/h (se você estiver em velocidades maiores ele até a mantém por inércia, mas ao chegar em 80km/h ele não vai ultrapassar mais a marca). No teste dessa matéria, além de usarmos o 500e na cidade colocamos ele na estrada para ver como seria o comportamento de um elétrico de bateria de 42kWh. A Fiat declara que em condições ideais eles chegaram a andar 460km. Na vida real, o carro com 100% inicia a indicação que dá para andar 260km. Na primeira tentativa, usamos o carro pesado, com 200kg a bordo, em trânsito urbano, muito ar condicionado, o consumo chegou a 6,7kWh que resultou num alcance de apenas 228,9km, isso dentro da cidade. Acendeu um alerta de que na estrada esse alcance não passasse muito dos 180km.

Como o objetivo era de tentar fazer a maior quilometragem possível, optamos por começar a nossa viagem entre São Paulo (SP) e Itapema (SC) usando o modo Sherpa o máximo possível, já que o dia começara com uma temperatura de 19ºC, sem chuva, o que dispensaria o uso do ar condicionado e entre sair de São Paulo até o posto O Fazendeiro no quilômetro 386 da Rodovia Régis Bittencourt, distante 132km, escolhido como a primeira parada para recarregar a bateria do 500e, a maior parte poderia ser feita em velocidades baixas, de até 80km/h por conta do trânsito. A surpresa foi a de conferir que depois de iniciar a corrida com 92%, na chegada na primeira parada o 500e ainda tinha 53% de bateria o que dava para prosseguir por outros 140km (totalizando 272km) ganhando tempo e possibilitando fazer a recarga no posto Petropen, 74km à frente e que tem recarga mais rápida de 150kWh (R$ 2,20/kWh) enquanto que o carregador do O Fazendeiro trabalha com 30kWh (R$ 2,20/kWh). Tal sobra de carga se deveu também ao trecho de descida da Serra do Cafezal quando usamos o modo Range com maior atuação do sistema de regeneração de energia. O consumo médio na primeira etapa foi de 9km/kWh. Na segunda parte da viagem, com o dia mais quente, a 29ºC, usando bem o ar condicionado e mantendo uma velocidade média de 91km/h com picos de 120km/h, o consumo foi para 7,0km/kWh. Chegamos no Petropen com 24% de bateria e alcance remanescente de 55km. Nessa parada, houve a pegadinha. Tinha fila de carros para recarregar. Um dos motivos era o eletroponto da Volvo no posto Ongarato 500, em Cajati, 42km à frente na mesma Régis Bittencourt, que estava desligado direcionando todo mundo para o Petropen. Nessa hora é decidido que iríamos carregar o 500e até o momento em que o processo ficasse muito lento. Se de 0 a 80% o carregamento pode levar 40 minutos, desse ponto até os 100% pode lhe custar 1h20min da sua e da vida dos outros. O batente chegou com os 94% da bateria. Só que dessa maneira o alcance estava meio marginal para chegar no posto Costa Brava, 173km além, próximo à entrada da Estrada da Graciosa, e mais uma vez foi decidido o uso do modo Sherpa. Para se ter uma ideia, na tocada que estávamos fazendo, nesse trecho, usando o modo Range, o saldo de alcance estava negativo em 4km. No Sherpa pulamos para um saldo positivo de 12km de alcance. Andando devagar, sem ar condicionado, só não foi tão ruim devido ao intervalo forçado de quase 4h por congestionamento na estrada. A paciência nessa hora cobra seus limites. Do posto Costa Brava até o Condomínio Aeronáutico Costa Esmeralda, as opções de eletropontos de recarga rápida são bem variadas, com separações de 150km ou menos até, o que permitiu fazer paradas mais rápidas como a em Joinville, onde recarregamos apenas até os 80% (alcance de 183km) para seguir viagem mais brevemente para o hotel Villa D’Ozio na Praia Brava que ficava a 95km e depois para o Costa Esmeralda distante outros 32km. O retorno para São Paulo começou em Itapema com escalas em Joinville para um pernoite e outro em Curitiba onde paramos para produzir a matéria de gastronomia da HiGH 110. Nessa escala usamos um carregador de tipo 2 de 11kWh, bem mais lento, no estacionamento ao lado do hotel (que a garagem estava lotada). Foi a experiência de deixar o carro carregando enquanto dormíamos. E até que foi rápido pois iniciando às 21h53, a carga foi finalizada às 03h42. Tivemos até que dar um pulo no eletroponto na madrugada para desconectar o carregador sob a pena de ficar pagando o tempo ocioso que ele ficaria se deixássemos para fazer isso depois, além de impossibilitar outro alguém de usar o carregador.

Nesses pernoites a dica é verificar se há algum hotel que ofereça a recarga gratuita aos clientes ou no mínimo com um valor mais baixo. É comum, dá um pouco de trabalho pois é preciso checar as informações em dois aplicativos, um de reservas de hospedagem e o de recargas como o Plug Share, mas vale a pena. É possível inclusive ficar em um hotel mais caro com mais conforto e compensar o valor no desconto da recarga. De Curitiba, seguimos até o Petropen, mais uma vez usando o modo Sherpa nos momentos de subida de serra, chegando ainda com 24% de bateria. E foi providencial, pois momentos após o início do carregamento, a We Charge detentora do eletroponto entrou em contato via aplicativo indagando o porquê estávamos com o carro plugado no totem sem recarregar. Na verdade, o eletroponto havia parado de funcionar. Segundo a troca de informações, caiu o sinal de internet que alimenta o totem ou então o seu disjuntor. Fizeram algumas tentativas de reativação remota sem sucesso o que nos forçou a seguir viagem de 76km até o posto O Fazendeiro pois o eletroponto no Ongarato 500 (retornando 42km) ainda estava sem funcionar. Ao lado do totem de carga rápida há um de carga lenta que também não estava funcionando. Uma pessoa que tentava carregar a bateria de seu BYD Dolphin Mini estava conversando com o mesmo apoio remoto da We Charge e por ele ficou sabendo que haveria a possibilidade da reativação manual, mas isso dependeria da disponibilidade de alguém do posto Graal Petropen ir até lá para mexer no equipamento. Segundo o Graal, esse funcionário estava na cidade de Registro (16km distante) naquele momento. Na escala no O Fazendeiro, uma questão deve ser observada. A empresa WeMob dona do eletroponto somente aceita pagamento via cartão de crédito. Na maioria dos outros existem outras possibilidades como adicionar valores em carteira via pix. Mas o excelente suporte da funcionária Daiane, possibilitou um pagamento alternativo via Pix direto para a WeMob. Bateria recarregada, restou seguir para a capital paulista em segurança para finalizar toda a viagem. O que deu para perceber é que o 500e é mais suscetível ao maior gasto mais por conta do uso do ar condicionado do que pelo peso colocado nele. Pesado ou leve, na estrada, a média de consumo mais comum variava entre 8 e 9km/kWh, mas ao colocar o ar para funcionar, principalmente se a intensidade da ventilação for da graduação três em diante, a média ia para 6,7km/kWh. Gastamos R$ 301,56 de energia elétrica para rodar cerca de 1.400km. Se fosse um carro compacto que fizesse uma média de 12km/l na estrada usando gasolina a R$ 6,00 o litro, a pessoa iria gastar pelo menos R$ 700,00 só de combustível. Dá para dizer que o 500e é um dos melhores Fiat aqui no Brasil. Para o uso urbano, não há o que se ficar preocupado com o alcance da pequena bateria. Na estrada ele segue muito bem. Poderia ter mais 100km de alcance para facilitar as coisas e não precisar passar pelo certo desconforto de usar o carro sem ar condicionado e andando muito lentamente para cumprir o trajeto desejado. O torque na estrada é ótimo para as ultrapassagens. Ele chegou a acelerar de 0 a 100km/h em 8,7s e a estabilidade em curvas é de kart. É muito valente esse Topolino. Seria preciso usar por um bom tempo para ver se os custos mais baixos do consumo elétrico compensariam o valor mais alto que se paga pelo carro. Certamente o custo-benefício não será o mesmo se compará-lo com um Fiat Mobi. Um Mini Cooper SE também totalmente elétrico e que poderia ser uma referência de um modelo retrô e estiloso sai por R$ 239.990,00 e você terá mais espaço interno, motor de 218cv, torque de 29,57kgf.m e uma bateria de 54,2kWh que pode resultar num alcance de até 303km. Ao invés de pensar que você está pagando muito para ter pouco espaço de carro, a cabeça pode trocar essa lógica pela ideia de que muita gente pode passar os dias carregando um tanto de lata extra desnecessariamente num carro maior. Há casos que a pessoa realmente não precisa de um porta malas tão grande ou vá ter mais que uma pessoa extra a bordo. Se o dinheiro não fosse preocupação, é uma carro para se ter com um sorriso no rosto.

Onde achar:

Fiat

www.fiat.com.br