O ano de 2025 para a aviação começa em zonas de turbulências. As promessas de taxação de produtos e insumos não americanos pelo governo Trump, a alta do dólar que acontece desde a metade do segundo semestre do ano passado, e ainda as incertezas nas diretrizes econômicas no Brasil fazem com que as transações de compra e venda de aeronaves virem jogo de xadrez. Esta, inclusive, é a definição de Jonas Lopez, da Global Aircraft, negociadora independente americana de aeronaves e que tem representação no Brasil. Com a alta do dólar para mais de R$ 6,20 foi sentido o mercado temeroso. O volume de transações não caiu, porém houve uma pausa nas conversas, que começaram a ser retomadas agora no final do primeiro trimestre após a moeda americana baixar para uma média de R$ 5,70 e dar sinais de estabilização. Jonas diz que tal reação é corriqueira, o brasileiro sabe lidar com tais intempéries. Se ocorre uma variação muito aguda, como quando o dólar encontra numa faixa e nela se estabiliza, mesmo em valor alto, é o suficiente para fazer os clientes voltarem à mesa de negociações. Contudo, segundo Jonas, o governo Trump ainda é imprevisível, não há ideia clara de o que ele pode impor ou mesmo se pode voltar atrás nas taxações. A princípio elas estão caindo no mercado de metais e isso ainda não tem refletido em um impacto direto na aviação. Entretanto, aeronaves são feitas de aço e alumínio que os Estados Unidos importam em sua grande parte do Canadá, Brasil e México e desde 12 de março tais materiais foram sobretaxados em 25% por aquele governo. A situação também atinge o setor da aviação agrícola. Conversando com Thiago Silva, da AgSur, representante da Air Tractor, está estimado um aumento de cerca de 12% no valor das aeronaves se a política norte-americana continuar com a estratégia econômica. Do percentual um terço deverá ser absorvido pelo fabricante, outro terço pelo representante e o restante será repassado ao consumidor. Só para lembrar, os aviões agrícolas de maior porte como os Air Tractor e Thrush são motorizados com as Pratt & Whitney PT6 fabricadas no Canadá e elas respondem por cerca de 50% do valor da aeronave. Os GPS Ag-Nav também são feitos no Canadá. O equipamento custa em torno de US$ 22.000,00 a US$ 23.000,00 e poderá chegar aos US$ 30.000,00. Só que a não definição de o que vai acontecer faz com que o comércio estanque. O representante pode ter o avião para vender, os fabricantes estão ampliando as suas linhas de produção (ponto que é o grande gargalo da aviação agrícola atualmente), há o cliente para comprar, mas não se sabe no final das contas quanto o produto custará. Segundo Thiago não houve cancelamento de pedidos, mas já existem três casos de aguardo na decisão de compra. Ele explica que no final dos anos de 1990 era vendido avião agrícola em janeiro para receber a máquina a partir de junho ou julho, estendendo as entregas até setembro do mesmo ano. Atualmente se entrega avião ao longo de todo o ano, com os clientes pedindo suas máquinas dois anos antes, entretanto, as notícias das possíveis taxações chegam no exato momento de final de várias safras, quando os clientes estão contabilizando o que colheram, o quanto foi rentabilizado para, então, ver o que será direcionado a novos investimentos. O momento atual gera a possibilidade de esse cliente postergar a batida de martelo da compra da aeronave. Só que o fabricante e o representante têm que trabalhar com uma margem de tempo extra para configurar o modelo a ser produzido. Sobra a questão de o que fazer se ele prepara o produto e o cliente desiste de comprá-lo. Acontece certa equivalência na aviação executiva. Jonas comentou que tradicionalmente os primeiros três meses do ano nesse segmento servem para o cliente prospectar o que existe na área, deixando as decisões para abril em diante. O detalhe que ele salientou é que o seu mercado foi soberano. Passou por cima, por exemplo, da má visão de como seria a atual gestão de governo no Brasil para seguir fazendo os seus negócios. Jonas diz que o mercado da aviação executiva está sadio, tendo até um aumento da quantidade de aeronaves no inventário da Global para negociações. Em 2024 eles negociaram 41 aeronaves. Houve uma procura pelas de maior porte, como os Gulfstream e Falcon, o que demonstra que o cliente está subindo a categoria de suas máquinas. Mas uma atitude necessária é acompanhar cada momento do mercado, minuto a minuto, apertar os cintos e esperar essa zona de turbulência passar.