Casa da Pedra
Bom para cachorro
Dentre tantas propostas de destinos diferenciados, a Hospedaria Casa da Pedra talvez seja uma das mais inusitadas. Ela fica em Espírito Santo do Pinhal, numa das bordas paulistas da Serra da Mantiqueira. O espaço era a casa de veraneio de uma das sócias e serviu por certo tempo como local para receber amigos, parentes e, principalmente, os amigos de quatro patas de qualquer espécie. A casa também cuida de outros animais, em geral resgatados, e que encontram um belíssimo acolhimento. No dia a dia você não deixará de ter alguma companhia canina, o que torna as suas horas mais divertidas. E eles são bacanas. A construção foi cravada em cima das pedras do terreno, maciços de granito que também dizem trazer boa energia não só para o local, como também para as pessoas, tanto que a Casa da Pedra é definida como um spa para a alma dos hóspedes. Quem segue para lá, basicamente está atrás de sossego e do enoturismo. A região conhecida como Toscana Brasileira tem revertido o seu foco de negócios para esse tema. Espírito Santo do Pinhal quase quebrou depois que as duas grandes famílias que comandavam a economia local começaram no início da década de 2010 a ver seus negócios minguarem, o café especialmente. Houve, então, um êxodo enorme de pessoas, principalmente das mais novas, para as cidades próximas em busca de trabalho, ficando a cidade um endereço de aposentados. Com a chegada e começo da produção das primeiras vinícolas, aos poucos esse quadro vai se revertendo, mas ainda há o que ser aprimorado, ainda mais pensando com a cabeça voltada para o ritmo de vida do turismo. O comércio ainda fecha aos finais de semana, algumas vinícolas não atendem o público em certos dias. Também poderia ter mais atrativos agregados, como pontos de vendas de produtos da região e restaurantes de melhor qualidade. A Casa da Pedra é um tópico que serve muito bem para essa alteração do cotidiano do turismo em Espírito Santo do Pinhal. O padrão é bem mais alto que as demais ofertas no seu entorno, o que serve para atender o turista de maior poder aquisitivo e mais exigente que segue para fazer enoturismo. São 13 quartos no total, sendo seis desses da ala Imperial com 50m2 cada, três tendo banheira. Outros quatro quartos são da ala Anjos, intermediária, e ficam no prédio principal, e mais três ficam na ala Planeta, com estrutura menor e vista para o jardim do hotel.
A avaliação foi feita na unidade Dom Pedro I, uma das maiores, mas sem a banheira no ambiente. A decoração mistura alguns pontos em estilo rococó com o rústico e ainda uma pitada de industrial, com partes das paredes e tetos em cimento queimado, mas sem que a coisa fique pesada. É uma grande área, espaçosa, tendo uma pequena sacada com a vista para morros da Serra da Mantiqueira. No quarto, como todos, não existe televisão, estratégia da hospedaria para a maior imersão na experiência da pessoa no lúdico ambiente. Oportunidade para dar mais atenção para si e para a companhia do que à série da Netflix. De boas-vindas eles colocam uma caixinha com algum doce feito na região. No nosso dia, um par de pães de mel com doce de leite, nada excessivamente doce ou pesado. A roupa de cama e banho são muito boas, a cama é impecável e a quantidade de travesseiros faz com que o desejo seja ter oitenta cabeças para usar todos. O banheiro é bem espaçoso, com dois chuveiros, um deles panelão e outro ducha. A água é aquecida por energia solar (recurso que deve ser ampliado para abastecer outros equipamentos) e a temperatura é suficiente para enfrentar os dias mais frios. Os produtos de higiene têm boa qualidade e bom perfume, sem exageros. Porém, o que chama mais a atenção que os quartos é a parte da cozinha do Casa da Pedra, um dos motivos de seguir até o endereço. Aos sábados eles produzem um jantar na beira de uma fogueira que amplia a conexão com o ambiente. A partir de dezembro trabalharão com meia-pensão, com café da manhã e da tarde mais a janta. Nos cafés, muita coisa feita na casa, como as compotas e os pães, sempre muito bons. Aos finais de semana as refeições noturnas são oferecidas em sistema de bufê, nos outros é à lá carte. O mais importante é que eles optaram por uma repaginação da gastronomia regional, com o pé no caipira. Excelente decisão, pois sem praticar muitas invencionices tolas, elevaram os sabores daquele campo de forma criativa. Foram duas sequências apresentadas. As saladas de entrada vieram na forma de um carpaccio de maçã vermelha com molho de mostarda amarela, mais parmesão e lascas de avelãs numa cama de alface crespa, tudo regado com um aceto balsâmico – que domina o prato apesar da mostarda – bem adocicado e sem ser exageradamente ácido. A segunda opção foi a salada de rúcula e tomate com mini berinjelas recheadas com ricota seca e avelãs. O mesmo aceto foi usado por cima de tudo. As berinjelas estavam bem crocantes e com sabor que servia de complemento à ricota. Também foi servido um caldo de mandioquinha com creme azedo bem saboroso, textura cremosa e no ponto certo de sal. O creme quase que não é percebido.
Outro creme, este de pamonha, foi uma das opções de prato principal. Quase que um purê bem aveludado, apesar de terem mantido alguns grãos de milho para dar mais textura, e foi misturado com queijo provolone defumado, o que deu uma boa personalidade ao prato. Por cima vieram duas sobrecoxas de galinha caipira desossadas e enroladas feito um rolê recheado de legumes. Tempero com ervas como o tomilho e o alecrim bem presentes. O ponto de sal poderia estar um pouco mais baixo, para não fazer tanto degrau com o creme da pamonha, que é bem delicado no sabor do milho. Outro prato principal parecia um risoto, mas era um arroz cateto que depois de cozido foi puxado num mix de cogumelos shimeji, shitake, funghi e paris portobello, úmido no ponto certo, sem ser massudo, e com o bom sabor dos cogumelos que não estavam muito terrosos. Veio acompanhado com uma farofa caipira com bacon e torresmo e um filé mignon suíno bem delicado de sabor de uma marinada de especiarias. A sobremesa veio na forma de um sorvete de creme de queijo feito na cidade, contrapondo com a goiabada e uma redução de vinho. Foi uma versão sorvete do Romeu e Julieta. Para fazer o arremate, um café coado e, por favor, servido naquelas canequinhas esmaltadas. A carta de vinhos, como não poderia deixar de ser, dispõe de produtos da região, Prepare o seu bolso, pois se o merlot da Luiz Porto saía por R$ 147,00, os rótulos chegavam fácil aos R$ 300,00 ou mais, como o tempranillo da Stella Valentino (R$ 360,00) ou o Guaspari 2018 com 70% de cabernet franc e 30% caberbet sauvignon que estava por R$ 364,00. A Casa da Pedra tem já percebido uma mudança no seu perfil de clientes. Se antes a frequência de atendimento era mais de sexta a domingo, atualmente as reservas já começam a ser feitas abrangendo toda a semana. Boa parte, 90% do público, visita as vinícolas e dentre os 10% restantes, há quem siga para fazer trabalho remoto. O espaço é bom e tem muito para crescer – mas sem perder a qualidade – porque naquela área há bastante do ouro do turismo a ser explorado. Pode ser um ótimo lugar para ir a dois, mas, se não, pouco importa, os cachorros da casa lhe garantirão a boa companhia.
Mapa de rotas:
Como chegar:
O acesso básico é usando as SP-340 que liga Campinas à Mococa e a SP-342 que liga Mogi Guaçu a São João da Boa Vista. Estradas em perfeitas condições. O acesso à hospedaria é feito por uma estrada vicinal de terra que sai da via que liga Espírito Santo do Pinhal à Albertina.
Dica do piloto:
A Casa da Pedra está estruturando um novo heliponto ( 22º11’37.6”S/ 046º41’23.4”W) com uma boa rampa de aproximação apesar dos eucaliptos no entorno de uma de suas faces. Segundo eles vão entrar com o pedido de certificação junto à Anac. Além disso há o aeroporto de João da Boa Vista( SDJV 22º01’00”S/046º50’26”W) distante 44km com 1.250m de pista asfaltada. Uma pena mesmo é o aeroporto privado Irmãos Ribeiro (SDIB 22º09’38”S/046º46’33”W) que fica em Espírito Santo do Pinhal e poderia ser mais bem aproveitado se o fizessem um local de acesso público, como o Terravista na Bahia. No Rotaer diz que há uma pista de grama de 850m, mas na verdade existe uma pista de 1.300m asfaltada com 12m de largura.
Tarifário:
Diárias para casal a partir de R$ 965,00 de domingo a sexta e R$ 1.265,00 aos sábados nas suítes Marte e Sol Poente, até R$ 1.680,00 de domingo a sexta e R$ 1.980,00 aos sábados nas suítes Princesa Izabel, Imperatriz Leopoldina e Dom Pedro II. Há tabelas também para um, três e quatro hóspedes.
Taxa de R$ 100,00 para cada animal de estimação
Endereço:
Hospedaria Casa da Pedra
Estrada Pinhal-Albertina, Km 06 – Espírito Santo do Pinhal – SP
Tel.: (19) 99863 9282
www.hospedariacasadapedra.com.br