Feito para substituir o Fit, o Honda City Hatch sempre teve que remar muito para marcar presença. Apesar de não ser bem a mesma coisa, o substituto manteve a engenharia de rebatimento de bancos que faz com que o carro aumente muito o volume disponível internamente, recurso que sempre chamou a atenção no predecessor, porém o atual desenho da cabine não é tão quadrada em estilo mini van que facilitava muito quando era preciso transportar determinadas coisas que gostam de ocupar espaço. Era um dos principais artifícios de propaganda do Fit quando foi lançado. No ranking geral da Fenabrave, em setembro de 2025 o City Hatch aparece em 37º lugar com 1.276 emplacamentos, a versão sedã está em 34º com 1.453 emplacamentos. No acumulado de 9 meses, foram emplacados 11.459 hatch (3,28% do mercado entre os hatch pequenos) enquanto que de sedã foram 13.228 com 15,22% do seu segmento, afinal, são menos concorrentes no segmento, seis no total ante o dobro entre os hatch compactos. Para ter uma comparação, o VW Polo, líder da categoria do City Hatch entre janeiro e setembro emplacou um total de 93.707 exemplares e tem 26,81% do segmento. Contudo o City Hatch LX, o mais em conta, sai por a partir de R$ 117.500,00 enquanto que o preço do VW Polo Sense – o mais básico – parte de R$ 108.490,00. O City sempre foi associado à imagem de produto um pouco mais caro, ligeiramente mais premium.

Talvez para justificar ainda mais esse conceito a Honda lançou em agosto a versão Touring Sport. Se ela manteve a mesma estrutura e mecânica, a nova versão conta com detalhes estéticos em preto brilhante que o deixam com ar mais esportivo. Na lista estão as rodas de 16”, o teto, aerofólio traseiro e a antena tubarão. O carro vem também com ponteira de escapamento cromada e pedaleiras de desenho mais esportivo sendo que a cor da carroceria é sempre a Vermelho Supernova Perolizado (também disponível nas demais versões). O novo pacote de acabamento agrada. Por dentro o Touring Sport é sóbrio. Estofamento em tom escuro monocromático, bancos bem confortáveis com ajustes mecânicos na frente e acabamento típico Honda. No console central há o nicho para recarregar o celular por indução que trabalhou bem com o nosso Motorola Edge 50 Ultra, mas deixa o aparelho meio que muito exposto ao amigo alheio. Próximo está o botão do freio eletrônico e esse carro tem modo de imobilidade automático como também o que desativa o motor em paradas mais longas. Ao lado da manopla do câmbio está o acionamento do modo Eco. A tela de instrumentos do motorista de 7” tem desenho clássico apesar de ser digital, com múltiplas informações de viagem e desempenho no centro. O multimídia possui 8” e é bem típico Honda, com botões físicos para acionar os principais comandos, o que não é de todo mau, pois às vezes nas telas mais modernas, com tudo sendo selecionado por botões digitais na tela, o procedimento pode ser meio chatinho se o carro estiver andando em pisos mais irregulares.

Esse sistema falou bem, sem o uso de fios, via Android Auto com o celular. Basicamente não foi visto nenhuma perda de pareamento ou desconexão fora do comum. Os botões analógicos estão também presentes para regular o ar condicionado de duas zonas e o volume do som que a bordo desse carro se mostrou bem satisfatório com os médios e graves bem encorpados. Pela tela também são acessadas as imagens das câmeras de ré e a do retrovisor direito (acionada toda vez que se dá a seta para esse lado). O City pode acessado via aplicativo myHonda Connect, mas nas nossas tentativas surgiu a frustação de não conseguir fazer a coisa funcionar. Todavia é possível obter informações de viagens feitas, alertas e diagnósticos para manutenção, notificações em caso de colisão, rastreamento e criação de cercas geográficas para saber se o seu carro saiu de algum local delimitado e você pode travar e destravar o carro à distância. Botão de partida acionado, nenhuma surpresa com o funcionamento do motor. Aquela ponteira esportiva não produz nenhum som extra. Por sinal, esse carro é muito silencioso tanto para quem está dentro quanto para quem está fora dele. O quatro cilindros 1.5 transversal aspirado flex, gera 126cv a 6.200rpm e torque máximo de 15,5kgf.m (etanol) e 15,8kgf.m ( gasolina) sempre aos 4.600rpm. O carro pesa 1.184kg, não é tão pesado assim, porém ele trabalha com um lento câmbio CVT com sete marchas simuladas que podem ser trocadas por meio de borboletas atrás do volante. Mesmo selecionando o modo esportivo, o resultado veio na maior subida de giros apenas, em geral cerca de 500rpm do estava sendo usado em modo normal. Porém isso não se traduziu em uma chegada mais rápida ou intensa do torque ou potência, apenas uma maior emissão de barulho. Pisar fundo requer uma certa paciência.

O City Hatch Touring faz de 0 a 100km/h em 11s usando gasolina, o que não é nenhum espetáculo. Uma boa percepção aconteceu na parte mais tortuosa de serra da estrada que liga Morungaba à Serra Negra, em São Paulo. Ao tentar, assim que surgiu uma faixa de rolamento extra, ultrapassar um carro que seguia na frente a 80km/h, sem mexer em marchas, apenas pisando no acelerador, a resposta não foi nada agradável, a velocidade não vinha. Emparelhado, o jeito foi fazer a próxima curva bem fechada sem aliviar o acelerador e mantendo o lado da faixa para não fechar o outro perigosamente. Pneus cantaram bem, deu para perceber que o sistema de controle de tração e estabilidade trabalharam muito, porém, a carroceria surpreendentemente torceu ou sacolejou muito pouco. Foi preciso ser um pouco delicado também com a direção, pois ela está mais para uma tocada confortável, não tem a firmeza de um esportivo. A conclusão depois da ultrapassagem foi que o chassis, motor, suspensão e freios estão muito à frente do câmbio CVT. Se fosse um pouco mais esperto, ele o deixaria o City Hatch Touring Sport com a real característica que o nome sugere e seria bem mais agradável de conduzir. Ele não é ruim, só é feito de um perfil mais família, para tocadas tranquilas. Em compensação, o consumo é baixo.

Usamos o carro prioritariamente vazio, com apenas uma pessoa a bordo. Na estrada, com gasolina no tanque, andando a 110-120km/h com cerca de 2.100rpm no motor deu para chegar aos 17,1km/l. Ao pegar trecho de subida de serra, mantendo os giros mais altos, entre 3.000 e 3.400rpm a média desceu para 14,5km/l, mais ou menos o mesmo número acusado no trânsito da cidade. Com um tanque de 39,5l dá para fazer viagens de 650km com folga. Esse carro também vem com diversos recursos de auxílio à condução dentro do pacote Sensing (que não é exclusivo dessa versão, está presente desde a versão EX) como o piloto automático adaptativo com centralizador nas faixinhas (discreto na atuação), frenagem de emergência e ajuste de farol alto automático. Tudo para garantir mais segurança em uma etapa mais longa e que pode mais facilmente degenerar as reações do motorista. Tudo muito Honda. O City Hatch Touring Sport está sendo oferecido por R$ 152.800,00, uma diferença de R$ 3.000,00 a mais em relação à versão Touring. Tem gente vai achar que está demais só pelos detalhes em preto, pois os dois carros são tecnicamente iguais. Com R$ 7.200,00   extras, dá para comprar um Fiat Pulse Abarth que tem motor de 185cv, torque de 27,53kgf.m e um comportamento muito mais esportivo. O Peugeot 208 GT Hybrid entrega 130cv e sai por R$ 126.990,00 mas tem cabine ligeiramente menor. Se olhar na tabela da Fenabrave, no que eles reúnem como hatch pequeno, o City pelo seu tamanho, estilo e pacote a bordo, está sozinho no mercado. Muito provavelmente o seu maior concorrente esteja na prateleira da própria Honda. O novo WR-V que anda com o mesmo motor, tem pacote de recursos semelhante, sai por R$ 149.900,00 e é um SUV, o que deve atrair mais mercado. Fica então à critério do consumidor, que vai sentir a diferença que decidirá a sua escolha literalmente na ação de entrar e sair dos dois carros. No City ele estará em posição mais rebaixada, enquanto que no WR-V a postura será um pouco mais elevada.

Onde achar:

Honda

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