Imagine subir num banco em praça pública e ao megafone declarar que está precisando de 2,4 milhões de novos profissionais para trabalhar com você. Mas, calma, o número diz respeito ao período dos próximos 20 anos. Segundo um estudo da Boeing, esse é o tanto de tempo que o setor da aviação comercial vai precisar para as suas operações se sustentarem tecnicamente. Os motivos estão nas recomposições de frotas e no aumento de mercados emergentes. A aviação precisará de pelo menos 660 mil pilotos, 710 mil técnicos de manutenção e 1 milhão de tripulantes de cabine. Dois terços chegarão ao mercado pela reposição de mão de obra, o outro terço vai apoiar o crescimento de frota. Em junho a Boeing previa a necessidade de 43.600 novas aeronaves para suprir as demandas da aviação comercial global no mesmo período de 20 anos. No primeiro quarto deste século, o fluxo de passageiros nas viagens comerciais triplicou, e a frota global de aeronaves mais que dobrou. A previsão é que o tráfego de passageiros permaneça aumentando 4,2% anualmente. Até 2044, cerca de 80% das atuais aeronaves devem ser substituídas e as entregas de novos aviões devem bater as 21.000. Da frota total, 72% serão de aviões de corredor único, em função da maior atividade das companhias de baixos custos e maior oferta de voos mais curtos.

Em termos de profissionais, a Eurásia, China e América do Norte responderão pela maior parte da demanda. Na América Latina a necessidade por novos pilotos deve ser de 37.000, serão 42.000 novos técnicos e pelo menos 55.000 tripulantes de cabine. Nos números mais recentes da IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo, a procura por viagens aéreas em 2025 deve bater recorde. A associação indicou que o crescimento chegou a 5% em maio deste ano se relacionado ao mesmo mês de 2024. A capacidade de assentos na mesma comparação também cresceu em 5%. Entre as viagens internacionais, o tráfego em maio deste ano aumentou em 6,7% em relação ao maio de 2024. A previsão é de 2025 fechar com mais de 5,2 bilhões de passageiros, 40 milhões de voos e ter uma taxa média anual de ocupação histórica de 84%. Para a IATA, a lucratividade das companhias aéreas, apesar dos ventos contrários, deve se fortalecer ligeiramente em 2025, chegando a US$ 36 bilhões, melhor que os US$ 32,4 bilhões de 2024. Traduzindo, o primeiro semestre de 2025 trouxe muitas incertezas aos mercados globais.

Apesar disso, por conta de muitas medidas, os lucros líquidos, ainda que abaixo das projeções, serão um pouco melhores para as companhias aéreas do que elas vivenciaram no ano anterior. Um fator foi o preço do combustível de aviação, que caiu 13% em comparação a 2024 e 1% abaixo das estimativas anteriores. O resultado é uma melhora nas margens de lucro líquidas, que passou de 3,4% em 2024 para 3,7% em 2025. Mesmo assim isso representa, segundo a IATA, cerca da metade da lucratividade média em todos os outros setores. A receita de passageiros deve atingir US$ 693 bilhões em 2025 (+1,6% em relação a 2024), um recorde histórico. Esse valor será reforçado por US$ 144 bilhões adicionais em lucros auxiliares (+6,7% em relação a 2024). Segundo Willie Walsh, diretor geral da IATA, a perspectiva é crucial para contextualizar números agregados tão expressivos para todo o setor. Obter um lucro de US$ 36 bilhões é significativo. Mas isso equivale a apenas US$ 7,20 por passageiro por segmento. Ainda é uma margem de segurança pequena e qualquer novo imposto, aumento nas taxas aeroportuárias ou de navegação, choque de demanda ou regulamentação onerosa colocará rapidamente à prova a resiliência do setor. Os formuladores de políticas que dependem das companhias aéreas como o núcleo de uma cadeia de valor que emprega 86,5 milhões de pessoas e sustenta 3,9% da atividade econômica global devem manter isso claramente em foco, disse Walsh. Coisas para pensar na hora de colocar a cabeça no travesseiro.