Os rotores estão girando à toda. O costume de decolar e pousar na vertical nem sempre dependendo de um aeródromo, o que facilita o trabalho, está se alastrando por áreas desse Brasil até então pouco explorados pelos fabricantes de helicópteros. Em Santa Catarina, apareceu uma onda de aquisições de helicópteros mais recentemente. Na carona, mais funções estão sendo realizados por esse tipo de aviação. Recentemente a Helibras soltou um vídeo institucional mostrando o cotidiano de um cliente em Itabira (GO). Se a aviação de asa fixa é normal para o fazendeiro do centro-oeste, usar uma máquina dessas não é tanto assim. Os motivos estão no maior custo operacional e também na oferta de apoio para as manutenções, a disponibilidade não é tão vasta assim fora do sudeste e parte do centro-oeste. É preciso voar longe para manter os helicópteros em dia. Todavia, o desenvolvimento da economia e o aprendizado do mercado tem feito surgir novas oportunidades para o uso do helicóptero. Entrevistando Alberto Duek, presidente da Helibras, ele nos contou que a fatia de negócios do agro tem crescido, é um dos focos que eles estão investindo mais recentemente por saber como o uso do helicóptero pode aumentar a eficiência do produtor. No caso de Itabira, o produtor adquiriu um ACH 130 em função da dificuldade que ele tinha em inspecionar suas propriedades. Elas eram grandes como também são as distâncias que as separam, algumas delas tem lugares inacessíveis de carro comum, situação que acarreta em perda de tempo. Com o uso do ACH 130 ele pode fazer inspeções duas vezes por semana e de cima dá para ver pela coloração da plantação se chegou o momento da colheita ou não.

Essa é uma das facetas que mostra como o mercado brasileiro está num processo de maturidade. Se apareceram novas funções, o cliente que já comprou um helicóptero monoturbina está subindo um degrau indo a caminho de um helicóptero biturbina. Da mesma forma que ele conhece as aberturas de possibilidades que ele pode fazer com o helicóptero, começou a entender as restrições operacionais que um modelo mais básico tem como a de não voar por instrumentos – apesar de existir, por exemplo, o Bell 407 com versão IFR – ou de precisar de maior capacidade de transporte de pessoas. O mercado para a Helibras vem crescendo para o H145, helicóptero biturbina que eles determinam como leve, mas está quase invadindo a categoria dos de médio porte, um multimissão que atende desde o executivo ao parapúblico. Inclusive ele é o mais vendido no mundo atualmente. Se incluir os BK117 C2 lançado em 1999 e que originou a atual versão, há cerca de 1.700 exemplares em serviço por 350 operadores que já acumularam perto de 8 milhões de horas de voo. Algo como 60% das vendas confirmadas na categoria em 2024 foram de H145, mas não está claro se desse bolo fazem parte a versão militar UH-72 Lakota que foram até então feitos 481 exemplares para as forças armadas americanas (463 são UH-72A e 18 são UH-72B). Separando por segmento, o militar responde por 34% dos H145 em serviço, seguido pelo aeromédico com 33%, serviços público com 10% e o corporativo responde por 7%. No Brasil a Helibras vendeu 5 exemplares neste ano, todos na função executiva. Curioso que ele se torna refém do seu sucesso, vendeu tanto que novas linhas de produção precisam ser sejam abertas pela Airbus Helicopters no mundo para suprir a demanda. A Helibras não abre se haverá uma linha de produção desse modelo aqui no Brasil. Todavia, segundo Duek, entende que existe demanda aqui especialmente do modelos médios para atender o segmento parapúblico, privado e militar. A estimativa é da necessidade de pelo menos 100 aeronaves nos próximos 10 anos. Aqui inclusive ele tem até influenciado a venda do irmão menor, o H135, biturbina leve para até 6 passageiros. A história segue o seguinte roteiro.

Em determinado momento ele ouve da existência do H145 e resolve por si em passar a voar nessa máquina. Contudo, há a questão da disponibilidade e tempo de entrega do produto. Nessa hora também entra o trabalho de assessoria da própria Helibras para detectar se o padrão operacional do cliente é realmente para tal modelo. Algumas vezes a escolha mais adequada pode então recair para o irmão menor. Em 2024 já foram vendidos 5 H135, 2 para o uso parapúblico e 3 executivos. A situação da disponibilidade está diretamente ligada ao problema da cadeia de suprimento global iniciado na pandemia de Covid-19 e que ainda continua mesmo depois de quatro anos após o seu término. Houve alguns fornecedores que quebraram gerando a necessidade da qualificação de outros, o que leva tempo. Os impactos foram sentidos do segmento de motores ao de aviônicos. O mundo em conflito como o envolvendo a Rússia e Ucrânia também não colabora influenciando no fornecimento de matérias primas essenciais. A russa VSMPO – Avisma é a principal fornecedora de titânio para a indústria aeronáutica. A Rússia produz cerca de 6% do alumínio usado globalmente e são também o grande fornecedor de níquel, usado para fazer o aço inoxidável. A situação está longe do ponto de equilíbrio ideal mas toda essa cadeia está crescendo no caminho certo segundo Duek. Só que na hora em que o fabricante não consegue entregar o produto na velocidade que o mercado pede e é preciso determinar um aumento no prazo de entrega, isso será mais uma variável na hora da escolha do helicóptero por parte do cliente que pode até alternar a compra para uma aeronave usada ou de outra marca. Os fabricantes tem que rebolar nessa hora. Duek tem a visão de que na aviação de helicóptero não existe um ano de mercado igual ao outro. Tudo impacta. Comparando o ano de 2023 com o de 2024, no ano passado a Helibras chegou no momento da Labace, no mês de agosto, com 5 helicópteros vendidos e durante a feira eles fecharam a venda de seis aeronaves. Em 2024, no momento da Labace, o fabricante já tinha 14 helicópteros vendidos ao longo do ano. Para 2025, a Helibras não comenta previsões, mas acredita num perfil positivo de vendas.