Para a alegria de quem gosta do mundo em duas rodas, agora é há para onde ir. O Centro Cultural Movimento abriu as suas portas em Socorro (SP) com o acervo histórico desse verdadeiro estilo de vida que faz verter lágrimas. Como nunca houve no Brasil um lugar com acervo tão grande, cuidado e variado para se ver, e principalmente contando a história desde os seus primórdios, o saudosismo, principalmente de quem tem mais de 50 anos, aflora ao olhar em cada canto desse museu. A estrutura do lugar é a da antiga estação de trem da cidade, foi feito um toda uma adequação dos quarteirões no seu entorno, sempre focando no público das duas rodas. Há estacionamento exclusivo para motos e na entrada existem armários para a guardar vestimentas e capacetes. A cidade em si está num processo de incentivo ao turismo em duas rodas, num dos shopping de vestuários há áreas reservadas para receber esse público, também com guarda-volumes feitos sob medida.

O Centro Cultural Movimento, por enquanto, está majoritariamente mostrando o lado das motos, apesar de ser também abrigo para o mundo dos pedais. Mas o acervo, por conta do que já vinha sendo montado e a ligação maior dos seus idealizadores com as motocicletas, consequentemente fez com que o viés motorizado fosse maior e, mais ainda, com um grande destaque das competições tanto dentro ou fora do asfalto. Parte do acervo é do centro cultural, em sua maioria, relacionado com o arquivo histórico. Parte dos troféus, motos, capacetes e macacões está em exposição por empréstimo dos seus donos. E é de arrepiar. Na entrada está a parte que mostra diversos troféus, um deles na época do antigo traçado de Interlagos. Outro troféu é de uma beleza artística sem igual, o Troféu Real Consul D’Italia de 1937, foi feito pelo artista Galileo Emendabile (que fez também o Obelisco e a Estátua de Duque de Caxias em São Paulo), para uma prova ganha por Luiz Bezzi de Santos e em bronze, mostra a figura de um piloto em ação em cima de uma moto invisível, só com as rodas aparentes.

Há diplomas, com caligrafia gótica, feitos à mão. Numa das esquinas está o macacão e o capacete do piloto Cláudio Girotto usado numa corrida da década de 1980, quando ganhou de concorrentes estrangeiros do calibre de Carlos Lavado, Barry Sheene e Johnny Cecotto. Da segunda seção em diante, a coisa esquenta. De cara um trio de Yamaha TZ, a 350 do Adú Celso, primeiro brasileiro a ganhar no campeonato mundial de velocidade, no circuito de Jarama, na Espanha, em 1973, e que foi restaurada recentemente. Ao lado estão a TZ250 que Antônio Jorge Neto ganhou as 100 milhas de Daytona (EUA) em 1983 e outra TZ350, esta do catarinense Lucílio Baumer, campeão brasileiro em 1980. Ao lado estão três ciclomotores de corrida, entre elas uma réplica da primeira Caloi Mobilete usada pelo Alexandre Barros quando ele mal conseguia colocar os pés no chão com ela parada. No mesmo espaço tem três Honda 125, uma MT de motor 2T, protótipo feito pela oficina Cetemo do Gualtiero Tognocci, uma Fórmula Honda 125 e uma CG de primeira geração, a Bolinha, tudo para mostrar como é a relação da marca com as competições. Lindo seria se tivesse bem ao lado uma Yamaha RX 125 e a sua irmã da fórmula monomarca. Essa parte abre para o grande salão com um acervo de motos e bicicletas de cair o queixo. As magrelas estão em menor número, mas já há exemplos, como a da bicicleta do grupo feminino Saia na Noite que mostra como cresce o cicloativismo aqui no Brasil. Tem sim, Peugeot seculares. Nas motos também há exemplos centenários, a mais antiga é uma Triumph Type H de 1915 de 500cc. BMW militares, motonetas, Matchless, uma legítima Vespa fabricada no Brasil, uma Sumbean que era vendida pela Mesbla, a lindíssima Mondial de 50cce a Yamaha MT07 que o piloto Rafael Paschoalin venceu a Pikes Peakes, lendária corrida de subida de montanha nos Estados Unidos e num lugar de destaque, outro macacão. Ele pertenceu ao Carlos Alberto Pavan, o Jacaré, que competiu nos anos de 1970 com uma pilotagem sem igual, usando o corpo em pêndulos que na época eram bem diferentes dos normalmente usados. Gênio indomável e que por conta justamente disso, acabou com a sua vida num acidente durante um racha São Paulo em 23 de Agosto de 1975. Duas mil motos se juntaram no seu cortejo fúnebre.

Se for para ver a coleção de uma tacada só, a visita ao Centro Cultural Movimento é programa para 1h30m. O bom é se estiver com visita guiada pelo Carlãozinho Coachman, um dos idealizadores do complexo. De extensa memória, é um deleite ficar ouvindo as histórias que ele tem de cada uma das peças. Mas o ideal é fazer o seu tempo de forma diferente. O ingresso de R$ 20,00 o inteiro e R$ 10,00 o meio, vale por um dia inteiro, dá para entrar e sair à vontade. Dá para fazer por capítulos, aproveitando o cardápio da Choperia Duas Rodas, que integra o centro cultural. Das opções, fotografamos o risoto de shimeji na manteiga (R$ 29,90 – prato individual) que vem com boa porção e com o cogumelo bem neutro, equilibrado com a manteiga. É um prato leve. Outra opção foi a da costelinha suína com molho de barbecue (R$ 89,00 – para duas pessoas) que vem com fritas. A carne veio bem macia e o vasto molho não era enjoativo e nem ácido demais. Duas opções para acompanhar a cerveja local Eco Bier. A Larger Puro Malte e a Premium Puro Malte (ambas a R$ 7,00 – long neck 350ml) são as que saem mais. No lugar há música ao vivo a partir das 19h00 (rock, graças ao bom Deus) e tendo a cerveja na degustação, a dica é ficar pelo menos de um dia para o outro em Socorro. A cidade tem rede hoteleira de primeira, a rede Sonhos tem unidades que exploram bem o conceito de esporte de aventura, uma delas com trilha voltada para as bicicletas, há o circuito de compras da malharia e muito bons restaurantes. Bem próximo há Monte Sião com suas malharias e porcelanas, Bueno Brandão com seus queijos e Monte Alegre do Sul com o café e a cachaça. Dá mesmo para passar por muita diversão em duas rodas.

 

 

Onde achar:

Centro Cultural Movimento

Praça Rachid José Maluf, 83 – Socorro

www.centroculturalmovimento.com.br

 

Horário de Funcionamento

Centro Cultural Movimento:

Quartas e quintas-feiras das 10:00 às 18h00

Sextas e sábados das 10:00 às 20h00

Domingo das 09h00 às 17h00

 

Choperia Duas Rodas

Terças, quartas e quintas-feiras das 11h00 às 22h00

Sextas e sábados das 11h00 às 00h00

Domingos e feriados das 11h00 às 22h00