Uma das coisas que a aviação proporciona é a possibilidade de ter novas experiências. Pode ser o novo destino, a localidade com costumes diferentes do seu cotidiano, o cardápio cheio de novidades ou até o voo em si. A ida até o spa de luxo Kurotel deu a chance de parte da equipe da HiGH experimentar um hábito que se pode ser comum aos trabalhos diários da redação, o de voar em aeronaves de menor porte, mas para o casal Nathália Pinho, diretora de arte, e Larissa Frei, produtora de vídeo, tudo seria uma grande novidade. Para sair de São Paulo (SP) e seguir até Gramado (RS), onde fica o spa, se a pessoa optasse pelo transporte aéreo, até pouco tempo, deveria chegar em Porto Alegre e de lá seguir por estrada até Gramado. Contudo desde o final de 2020 a Azul tem oferecido a ligação entre a capital gaúcha e Canela, vizinha de Gramado, com o serviço de rotas sub regionais da Azul Conecta e seus Cessna Grand Caravan. Esse tipo de voo que integra o uso de aeronaves de porte tão díspares, quanto um Airbus A320neo e o monoturboélice da Cessna é muito normal em mercados como o norte-americano. Por aqui, algo parecido já foi tentado várias vezes desde a década de 1970. O Sitar, Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional, integrava as malhas das grandes companhias com empresas regionais, em geral voando o Embraer Bandeirante, sobreviveu apenas enquanto houve subsídios entregues pelo governo.

Dessa época surgiram e sobreviveram a TAM e a Rio-Sul. Erros em regulamentação tarifaria, de malha aérea, falta de demanda de passageiros nas cidades menores, o bolso curto dos passageiros e até o uso de aeronaves erradas foram alguns motivos que a aviação brasileira nunca tivesse um modo operacional como a malha dos Estados Unidos, que até criaram termos como o commuter, que define as aeronaves de menor porte usadas em rotas ligando pequenas cidades com os grandes centros de malha aérea das companhias principais. Mercado que é fundamental para o crescimento da Embraer até hoje. O modo de operação da Azul Conecta que trabalha como se fretando os seus aviões para a Azul principal, está fazendo que cidades como Gramado e Canela tenham ligação aérea de qualidade. E para o passageiro, ele pode dentro do mesmo sistema de reservas, pagamento e conexões, fazer seu voo de forma totalmente integrada. O voo de São Paulo começou cedo, via aeroporto de Guarulhos, com decolagem do voo 4618 às 07h35. Lotação plena no Airbus A320neo com destino à Porto Alegre, etapa simples com cerca de 1h30minutos de duração. O sono e cochilo substituiu o uso do sistema de entretenimento a bordo, até porque como PR-YSG estava novo em folha, o sistema ainda estava inoperante.

O desembarque no aeroporto Eduardo Gomes aconteceu às 09:26, o que garantiria tempo suficiente para a conexão com o voo 5430 para Canela que sairia apenas às 12:20. Talvez aí morasse uma pequena pegadinha, pois de carro, o percurso entre o aeroporto e o centro de Gramado é de apenas 120km, que dependendo do dia e considerando o mesmo horário pela metade da manhã, pode ser percorrido em 2h30min, ou seja, menos que o tempo de conexão, mesmo considerando o tempo para fazer os trâmites de locação de carro. Mas poderia ser que o passageiro chegasse de outra localidade, com uma conexão mais imediata. Aí a vantagem do Cessna Grand Caravan imperaria, pois o trecho é feito em menos de meia hora. O tempo na conexão serviu para o lanchinho de aeroporto e a criação das expectativas pela Nathália e pela Larissa de como seria um Grand Caravan. A Nathália, em especial, tem fobia de voar e se para ela um ATR72-600 de 70 lugares como os estacionados em frente ao terminal onde aguardávamos a hora do embarque já é pequeno, imagine o que poderia ser um avião monomotor com capacidade de levar 9 passageiros apenas. As novidades continuaram na hora de seguir para o portão de embarque. Nada de filas, eram apenas seis passageiros que iriam fazer a viagem, basicamente dois grupos. O ônibus leva todos até em frente ao PS-CNA um dos Grand Caravan EX da nova leva que a Azul Conecta estava recebendo. O avião inclusive é um dos que tem a pintura da campanha Outubro Rosa para incentivar os hábitos para o combate ao câncer de mama.

Diferente também foi o embarque, usando a pequena escada embutida na porta traseira direita e a acomodação em bancos que mais pareciam de uma van escolar. Para o casal também foi diferente ver o trabalho dos dois pilotos, já que em aeronaves que elas estavam acostumadas, a tripulação fica restrita na cabine fechada. O serviço de bordo, também é diferente, com os copos de água guardados numa caixa térmica na parte traseira da cabine. Todos embarcados, taxiamento lento até a cabeceira 29 de onde o Grand Caravan EX mal gasta 600m para tirar as rodinhas do chão. A subida é feita com uma curva à direita logo após cruzar o rio Guaíba e passando no través da base aérea de Canoas para seguir em proa direta para Canela no nível 070. O Cessna segue com uma velocidade indicada de 135nós para uma velocidade verdadeira de 155nós, as quatro pás do conjunto de hélice girando a 1.759rpm, NG em 93,4%, temperatura interna da turbina em 702ºC e tendo um fluxo de combustível a 325lbs/h. Apesar do vento forte contrário que chegou a 35nós, o horário no meio do dia, todo o voo foi muito liso para a sorte das passageiras. O que elas notaram é que voando bem mais baixo do que estavam acostumadas e tendo as grande janelas à disposição, a perspectiva visual é muito diferente da encontrada num jato que voa a 36mil pés. É possível ver melhor os detalhes da paisagem, o que agrada. O voo é bem curtinho com 25 minutos de duração e o circuito de tráfego é feito para a cabeceira 25 do aeroporto de Canela (SSQN) com direito a alguns sacolejos pelas rajadas orográficas do lugar. Pé esquerdo bem aplicado para manter a reta da pista numa rampa um pouco caranguejada, uma leve flutuada em cima do asfalto e até que o PS-CNA pousa de forma suave. As duas passageiras também acharam curioso poder ver todo o procedimento de frente, pelo parabrisas, como se estivessem num carro. Outra surpresa para elas foi o procedimento de desembarque.

Nesses voos apenas se desembarca, pega-se as malas e segue para fora do aeroporto. Um carro com motorista do Kurotel estava no aguardo. Como o aeroporto é pequeno, ele basicamente fez a espera ao lado do pátio onde estava parqueado o Azul Conecta. O que é rotina na aviação executiva, para elas que só haviam antes voado entre aeroportos grandes, a praticidade de não ter que seguir por longos trechos à pé no terminal, passar pela área de coleta de bagagens e ainda ir até algum estacionamento, se mostrou uma grande mão na roda. Conhecer o terminal de Canela só foi possível na volta e por conta do mau humor de São Pedro. A previsão desde que havíamos chegado era para tempo ruim no retorno, mas não estava escrito que seria de tal forma que impedisse do avião da Azul Conecta sequer partisse de Porto Alegre para fazer o bate e volta. Rajadas violentas, muita chuva e visibilidade restrita ao chão não davam a mínima condição de operação no aeroporto de Canela, que só opera visual e na época somente diurno, pois os cabos de energia do balizamento da pista haviam sido furtados dias antes. O terminal é administrado pela Tri táxi aéreo, que também tem um hangar no lugar.

É uma construção pequena mas muito bem estruturada e decorada. Externamente tem aspecto de cabana rústica de madeira, por dentro é uma sala vip digna dos melhores FBO no Brasil. Há uma adega climatizada com uma boa carta de vinhos e uma lanchonete com salgadinhos e pequenos lanches. Esquema para receber as aeronaves da aviação executiva. Para a equipe, serviu de base até que fosse decidido seguir para Porto Alegre de carro, não havia chances de ser realizado o voo que deveria sair às 13h20. A Azul providenciou o traslado, feito num sedã. Só que devido o trecho ter sido feito em três horas, com velocidade reduzida na descida da Serra Gaúcha e mais o tempo que foi gasto decidindo que o Grand Caravan não pousaria em Canela, não foi possível fazer a conexão com o voo 4203 que partiria de Porto Alegre às 15h40 com destino ao aeroporto de Guarulhos. Mesmo antes de chegar na capital gaúcha, já sabíamos que o nosso embarque seria feito no voo 4850 das 18h50. Assim, a Azul além do traslado de Canela, também providenciou a alimentação nos restaurantes do aeroporto. Contudo a experiência foi válida. Deu para ver como a ligação pelo ar pode melhorar as opções para o turismo na região daquela parte da Serra Gaúcha, que já tem um fluxo de pessoas que vão até lá para conhecer um dos pontos melhor estruturado no Brasil para receber os visitantes. Dá para imaginar o estrangeiro que está fazendo um roteiro pelo país, fazendo uma escala indo ou vindo de Foz do Iguaçu (PR), que não fica numa linha de viagem muito direta, tendo que fazer o percurso via Curitiba ou São Paulo. Para ele o uso da Azul Conecta permite maior conforto e facilidade como a experiência pela qual passaram as nossas duas protagonistas dessa matéria. Bem vindas a bordo.