O condomínio aeronáutico Aeroquadra no minúsculo município de Quadra (SP) serviu de palco para a primeira apresentação em voo de um e-Vtol no Brasil. Evento pequeno, entretanto muito significante, porque é a real chegada de um novo tipo de transporte aéreo ao cotidiano das pessoas. O modelo foi o EHang EH216-S representado aqui pela GoHobby. Ele já havia circulava em exposições estáticas desde outubro de 2023 mas somente agora a Anac autorizou os primeiros voos de testes para o processo de certificação. Segundo Jeovan Alencar, diretor da GoHobby, apesar da demanda do processo de certificação ser feita entre a Anac e a CAC, o órgão regulamentador da aviação na China, onde o EH216-S é feito, a GoHobby conseguiu as autorizações para os voos até para poder entender mais profundamente como é a operação do e-Vtol e terá os dados disponíveis para a Anac se for preciso. As autorizações dos voos foram emitidas para a área do Aeroquadra, mas pode ser que outros lugares sejam inclusos futuramente. Um Notam foi negociado com a ativação do box de acrobacia que existe no Aeroquadra para que o voo fosse feito mais tranquilamente, mesmo que as tais manobras não fossem previstas. Durante a apresentação, de qualquer forma, o aeródromo foi fechado para as operações e foi estabelecida uma restrição de 1 milha no seu entorno. Foi próximo das 10h00 de 20 do mês de outubro de 2024 que o PR-EVT deu a partida nos seus 16 motores elétricos fazendo girar os conjunto de mini rotores bipás contrarrotativos. Para esses voos iniciais não foi possível embarcar qualquer passageiro, exigência da Anac. Todo o processo de comando é feito remotamente, de qualquer modo, esse aparelho foi concebido para sempre voar de forma autônoma, não há piloto a bordo. A ambição da GoHobby é que os primeiros voos de teste com pessoas a bordo aconteçam em um ou dois anos, mas tudo dependerá da Anac. Como um drone, toda a rota, pontos de pouso e alternativas são estabelecidas previamente num computador que envia os comandos para o EHang EH216-S. Os humanos ficam monitorando nas estações de controle quase que fazendo o papel de recurso reserva. Inclusive, não foi possível fotografar ou filmar essa estação para que não vazasse nenhum detalhe que pudesse mostrar algum tópico do software à concorrência. Um dos grandes aspectos que sempre geraram expectativa está relacionado ao nível e ruído emitido pelo e-Vtol. Por determinação da Anac, as pessoas ficaram 25m distante do ponto de decolagem e pouso. Os vídeos estão no TikTok e no Instagram da HiGH @highrevista.

Quando foi dada potência o resultado mostrou que ele é bem mais silencioso que um helicóptero leve, tanto faz quantas pás o rotor principal ou qual tipo de rotor de cauda ele tenha. Mas ainda não é um disco voador pairando sobre a sua cabeça. É mais silencioso, o deslocamento de ar embaixo dele é bem menor, mas ainda emite um certo barulho. É um som compassado, mais para o grave ao contrário do agudo à lá pernilongo dos mini drones de filmagem que as pessoas estão acostumadas em ver em eventos ou casamentos. Parece um Lockheed Electra II taxiando. Talvez uma referência mais próxima em termos de nível de ruído fique nos helicópteros MD com sistema Notar que dispensa o rotor de cauda, só que com um sonoridade uma ou duas oitavas mais baixa. Será preciso ver o que a Anac determinará sobre os limites de operação desse e-Vtol em lugares que tenham hospitais, escolas ou casas de repouso nas redondezas. Em geral os helicópteros são mantido à distância. Muitos helipontos em São Paulo tiveram as suas operações restritas por conta desse motivo. Logo que os rotores foram acelerados o EH216-S levantou voo na vertical de forma bem decisiva. O dia estava acusando rajadas entre 16 e 17nós, o que não foi problema para o EH216-S que pode decolar com até 25 a 30nós de vento. Tanto na decolagem como no pouso o que chamou a atenção foi a estabilidade do seu movimento. O fato dos rotores em seu redor girarem de forma contrarrotativa anula qualquer tendência de torque como o existente num helicóptero de rotor principal único. Ao que parece ele tende a ser menos suscetível aos efeitos de vento de cauda. A velocidade foi mantida a 40km/h mais para que as pessoas pudessem ver o jeito com que o e-Vtol se deslocava e também para que desse tempo mais que o suficiente para que as pessoas fizessem suas fotos e vídeos. O pouso foi feito com uma descida mantendo 0,4m/s. Depois dos dois voos, um com cerca de 4 minutos e outro com 7 minutos, levando em conta que foram feitos pairados e as decolagens que consomem mais energia, no total foi gasto 50% das 12 baterias que juntas entregam 23,52kWh ao EH216-S. Em condições normais o EH216-S é para voar distâncias entre 35 a 40km. Segundo Adriano Buzaid, empresário à frente da GoHobby, o EH216-S voa em velocidade de até 130km/h com custos que chegam de 6 a 10 vezes menor que o de um helicóptero. O aparelho sai por a partir de US$ 600 mil e já existe uma carteira da GoHobby com 16 pedidos do aparelho aqui no Brasil. No mundo as entregas já ultrapassaram as 200 unidades. Agora é preciso ver como a Anac e o DECEA vão estipular as operações desses aparelhos. Fazer a coordenação e adequações com outros padrões de tráfego aéreo será necessário até para poder antever um congestionamento aéreo.