Montaer MC-01

Agora livre para o comércio

Adequado para novas legislações

Esses baianos não perderam tempo. Estamos a bordo do Montaer MC-01, agora certificado como LSA – Light Sport Aircraft. É o primeiro asa alta nacional enquadrado dentro desta categoria. Desde que a Anac determinou a nova legislação sobre o que era considerado LSA, houve o tempo de cinco anos de carência para que os fabricantes adequassem seus produtos e linhas de produção à nova realidade. Nesse interim, a Montaer foi criada para fazer algo novo. Bruno de Oliveira, que trabalhou na Paradise, empresa do seu avô, e que depois seguiu por caminhos próprios, entrou no campo com o jogo andando e já teve que trabalhar pensando nas novas normativas. Ele nos contou que desde o projeto inicial de 2014 a ideia era de fazer uma aeronave que se enquadrasse nos parâmetros LSA. Houve, sem dúvidas, algumas adequações que sugiram a medida que as normas técnicas exigidas pela Anac foram melhores entendidas. Contudo, a aeronave básica é a mesma desde o seu lançamento e foram nove já construídas e que estão sendo operadas no Brasil. Dentre alguns itens que foram colocados para atender os critérios estão a amarração das bagagens, tiveram que comprovar que os cintos de segurança de origem automotiva atendiam as normas – inclusive com a colocação neles dos avisos de data de fabricação e validade – e um curioso dissipador de carga estática instalado na roda do trem de pouso principal, além do outro que liga a fuselagem ao leme, que já existia. O painel ganhou dois liquidômetros para os tanques de combustível direito e esquerdo substituindo o único mostrador que antes ficava no console central, perto da seletora de tanques. Fora isso a Montaer teve que realizar uma série de testes de carga sobre a estrutura geral do avião.

Foram pelo menos quatro pares de asas usadas e cinco tanques de combustível só para esses testes que forçam os limites e mostram quando a fadiga do conjunto acontece. Todo o processo feito, eis que agora eles tem um LSA certificado. O MC-01 atende os requisitos de limite de peso de 405 kg vazio com óleo e o mínimo de combustível para cumprir um hora de voo e 600kg de peso máximo de decolagem. A velocidade não pode exceder 120nós. O LSA só pode ter trem de pouso fixo e hélice de passo fixo. Os exemplares feitos a partir do número de série 10, que é o desta matéria, poderão no futuro ser enquadradas na categoria LSA Special (com as normas ainda sendo definidas pela Anac), que entre as vantagens permite a atividade remunerada, como a do uso numa escola de instrução de voo. Na parte estrutural, foi levantada um pouco a parede de fogo, que associado ao conjunto da parte de cima do capô do motor e mais um parabrisas mais inclinado, resultou num nariz mais aerodinâmico. As portas ganharam um formato diferente na parte interna, que aumentou a largura da cabine em 5cm de cada lado, chegando a 1,2m. O padrão de acabamento de interior é bem melhor do que os dos Paradise, de quem afinal o MC-01 tem um certo parentesco. O Bruno não titubeia em falar que o MC-01 é o que o Paradise deveria se tornar o longo dos anos de desenvolvimento. Mas o Montaer deixou de lado o ar de algo muito parecido com o Tecnam Echo, que os Paradise tinham. A lógica da atenção com o acabamento foi a de atender o referencial que o seu cliente tem, pois é o mesmo que gasta 200-300mil numa Land Rover Evoque ou outro carro de padrão mais elevado. O acesso ao interior é bem melhor que os Paradise e muitos outros experimentais de asa alta do mercado como o Tecnam P2008. Para entrar o procedimento é de Ferrari, coloca-se primeiro os glúteos no banco, em seguida apoia-se um pé no estribo para em seguida jogar a perna contrária para dentro da cabine.

Nesse giro de corpo a cabeça passa sem os chifres enroscarem na moldura da porta. Isso para quem tem até 1,75m de altura. Fazendo isso com o banco totalmente recuado, há um enorme espaço para se acomodar. E um detalhe, como não existe uma parede entre o bagageiro e os bancos, é possível reclinar totalmente os encostos dos assentos para dormir a bordo, no melhor esquema camping aeronáutico. O painel definido para o LSA tem instrumentos de motor analógicos, um GPS Garmin 795, rádio GTR 200, transponder digital Garmin 327 e uma tela Dynon D180 com a instrumentação de voo. No conjunto estão como instrumentos reserva, um velocímetro, um horizonte à vácuo – por isso a presença do venturi na parte de baixo do capô – e um altímetro, tudo analógico. Fora isso há o intercomunicador e o sistema Skymaster que faz o barramento eletro-eletrônico. A Montaer pretende disponibilizar outros padrões de painéis, um totalmente analógico (US$ 12mil) com um GPS Aera 660, e outro totalmente digital com sistema Garmin G3X (US$ 32 a 35 mil com duas telas). O padrão do avião aqui testado está em US$ 20.400,00. Com o Rotax 912ULS e seus 100hp vivos, o PU-LLK é colocado na cabeceira 13 do aeroporto de Feira de Santana (BA), com tanque perto do cheio (de 140l no total) e 174kg de quase humanos dentro. Nada de bagagem numa altitude de 781pés num dia com 26ºC de temperatura ambiente, sem vento. A corrida para a decolagem é curta rodando a avioneta com 55nós indicados. Limpando o flape foi possível manter uma razão de subida de 500pés com 65nós. A atmosfera mesmo cedo, não estava colaborando tanto, havia uma certa turbulência, mas isso foi positivo para mostrar que o avião não samba muito nessas condições. Com 8,30m de envergadura ele é 60m menor que o Paradise, que era meio molão num céu não tão liso. Assim, mais seco nessas situações, fica mais fácil de ser usado por alguém com menor experiência ou em voos de instrução.

Nivelando a 3.500pés, baixo portanto por conta de restrição de tráfego aéreo, o MC-01 alcançou uma TAS de 105nós com o motor girando a 5.300rpm e gastando cerca de 18l/h. Essa é a batida dele. Sendo assim é possível fazer etapas de até 1.440km. Partindo para  algumas manobras, os estois aconteceram numa faixa entre 32nós com todo flape aplicado e um pouco de motor para contar a história até os 50nós sem flape e motor. De um modo geral o avião volta a voar assim que se aliviar o manche. É preciso uma boa atuação de profundor para que se consiga um estol bem definido, completo, sem muita vibração vindo lá da cauda ou tendências de cair de asa. O leme sempre está com boa atuação. Os comandos são bem justinhos, é fácil  executar as coordenações de modo adequado. Talvez poderia ter um compensador de leme, pois invariavelmente havia a necessidade de um pouco de constante atuação de pedal direito. Executando uma curva e largando os comando, o avião tende a fazer uma espiral leve, mas sem tendência em fechar em demasia. Cruzando os comandos e liberando em seguida, não foi visto nenhuma tendência a qualquer fugóide, o avião corrigia rapidamente a sua condição para o reto horizontal. No voo planado, bem ajustado dá para manter o avião com uma razão de descida de 500pés/min com uma velocidade de 60nós. O comando elétrico do flape bem que poderia ser um pouco mais rápido (dá uma certa saudade de uma barra Jonhson usados nos Piper) mas de qualquer modo, o MC-01 não altera muito o ângulo de ataque do nariz quando o dispositivo é aplicado. Em velocidades mais altas, perto dos 80nós limites de extensão do flape é que se nota uma leve tendência do nariz erguer. A boa visão para fora facilita o trabalho no circuito de tráfego, bem melhor que nos Tecnan 2008 que a base do bordo de ataque atrapalha a visão em ângulos de 45º. No circuito de pouso feito no começo a 80-70nós para cruzar as faixinhas com 60nós, o segredo do MC-01 é fazer a rampa com o avião sempre escorado com um pouco de motor. Da mesma forma que em cruzeiro, o comportamento do avião na rampa foi bem honesta, não é um daqueles modelos que são fáceis de dar excesso de comando pela falta de harmonia aerodinâmica ou de comandos. E nessa hora é que os testes de carga na estrutura se mostram a válidas depois de duas tentativas horrorosas de pouso, com placadas amadoras e o avião não saiu torto. O MC-01 atualmente sai por US$ 99 mil, e a pessoa pode dar uma entrada de 30 a 40% do valor total e ir pagando o restante durante o prazo de fabricação da máquina de seis meses. Eles tem 20 aeronaves já semi prontas, todas vendidas, que estavam esperando a certificação do modelo perante a Anac.

A meta é de ter uma cadência de produção de 24 aeronaves por ano e se existe uma crise no Brasil que possa atrapalhar esses planos, a Montaer tem projetos de oferecer o MC-01 lá no exterior, a princípio nos Estados Unidos e Argentina. Para o mercado americano o MC-01 deve atrair as atenções principalmente por um fator comum aos experimentais feitos aqui no Brasil que é padrão de acabamento interno melhor do que o encontrado nos produtos dos Estados Unidos. A ideia é do avião vai sair da fábrica em Feira de Santana (BA) montado e se for para os Estados Unidos, muito provavelmente a instalação dos motores seja feita lá, pois não fará sentido importar o componente para depois exportá-lo novamente. Se essa operação será feita com parceiros nos Estados Unidos ou montando alguma estrutura própria, essa decisão deverá acontecer até o final do ano para tentar algo em 2019. Segundo o Bruno, essa deverá ser a saída para não ficar restrito à um único mercado, ainda mais o brasileiro extremamente conturbado. De qualquer forma, sendo feito dentro das normas LSA, o MC-01 se livra um pouco mais do estigma da palavra experimental que recai sobre essa categoria de aeronave perante um leigo. Pelo menos agora ele sabe que existe uma produção com determinados padrões, o que garante de uma qualidade maior de fabricação e segurança.

Ficha Técnica

Montaer MC-01

Fabricante: Montaer Aeronaves

Motor: 1 Rotax 912 ULS de 100hp

Capacidade: 1 piloto + 1 passageiro



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